Nada
Crónica de Domingo na Bird Magazine . Não havia nada. Partia de manhã, estrada abaixo, quando o dia ainda vinha monte acima, já o comboio silvava ao longe trazendo o vento o claquear seco e agudo das rodas no carril agrilhoado às negras e oleosas travessas. O passo apressa-se, as pernas deambulam num apressado destino. Em dias de neve pareceria que por ali tinha passado um gigante, pegada aqui, pegada adiante, mas na verdade era apenas a corrida solitária de um homem, um pai (qual a diferença?), cujo frio na cara de uma manhã de um Inverno dos bons (não destes, doidos, que aparecem agora temperados em qualquer estação), contrastava com o beijo quente que a mulher, uma mãe (qual a diferença?) lhe tinha deixado nos lábios e na bochecha enquanto limpava a cevada dos lábios com o punho do pijama. O comboio aparecerá afobado, vem de ventas fumegantes, aquela testa grande laranja e branca, a travar há duas curvas para se imobilizar em qualquer sítio entre o início e o fim do...