A liberdade de escrever

in Bird Magazine.

É comigo que o silêncio fala,
escuto
ainda que não o ouçam
os pobres olhares que dizem nada terem a ver.
Vidradas
as luzes bruxuleiam-se ao tecto
para se derramarem sem cuidado
nas noites que tentam iluminar.
Enquanto na caverna temem a vida vivendo
cá fora acautela-se e emoldura-se o vento
e até a estupidez se cala,
porque ao longe vem o silêncio
e é comigo que ele fala…

Ainda que me doa
o acordar
é pelo sonho que me vivo,
no momento de me ter escrito
separar o vulgar
de um sopro inaudito
cá te almejo por entre mim
fugindo
do destino que soçobra altivo,
és planeta que se expande
num botão de Universo que plantei no meu jardim.

Intriga-me a quietude do silêncio
o amadurecer do êxtase
a órbita orbitada
inefável
pela noite (sempre, sempre a noite)
que se desliga do mundo para se ligar
à vida (sempre, sempre a vida)
enquanto as perolazitas a que chamam estrelas
rebolam e se enfiam olhos adentro
como se os dias chorassem para dentro de nós.

Que me lembre, sempre, eu, de ser pobre,
adormecer desnudado de mim,
de não distinguir ouro de cobre,
mundano
contra o vil, espartano,
cair por olhar as estrelas
e seguir adiante, ainda que ignorante
do brilho soçobrante das velas,
no meu destino pelo infinito, errante.

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