Na_tal
A estrada sinuosa, tal como os tempos que se comprimem antes do Natal.
O sentimento vem-me em tempo fora de tempo.
Longe vai a Natividade, tem dias o menino, Maria, embora virgem de concepção, sofre as agruras e as dores de uma recente paridez, segurando ao peito a salvação e amamentando o seu fruto, de leite e coração.
José, impoluto, negociando com o dono do estábulo, verdadeira semente de alberguista, oscila pela novidade de ser pai vigilante e conceptor ausente. Ainda não lhe cabem as futuras indagações e o olhar vago para o espaço, de onde terás vindo tu que te fizeste filho sem eu me ter feito progenitor?
Mas sabe-o, ele, precursor de uma parentalidade verdadeira, a doação de labor, tempo e amor a um fruto, sem importar qual a árvore ou seiva que lhe deu vida. Desconhece igualmente, porque a mitigação tecnologia surgiria apenas um longo par de milénios, mais coisa, menos coisa, depois da noite fria no estábulo, que outros houvera antes dele, verdadeiros pais incógnitos de filhos professos.
A realeza metafórica recolheu às suas terras, guiadas não se sabe porque estrela, pois essa ficou a luzir sobre a coordenada celeste que apontava o início do caminho. Levariam o alforge cheio já, pois a leveza do que deixaram em nada se compara ao peso do que aprenderam com a simples presepialidade de uma realeza cujo trono é superior à própria dimensão que vislumbramos.
Ainda por lá ficam os verdadeiros de pureza, os animais e as companhias que os seguem por onde quer que os levem as pastagens, os pastores. Via-os olhar uns para os outros, enquanto o calor se soltava dos seus corpos e aqueciam a barriga e o peito desnudado da Virgem e a pequena cabeça sem coroa de uma criança, qualquer criança.
Aqueles olhos, sempre diferentes, com tonalidades distintas, mais ou menos ovaloides, mais ou menos almendrados, com iris mais ou menos alongada, ainda que quem observe seja o Mesmo, presenciavam pela enésima vez a mesma cena, ainda que em cenário distinto.
Dos céus desceria, sempre, impoluta, uma criança.
De pouco adiantaria saber o sexo, ainda que as vozes reinantes admitam (ou lhes interesse) ser descendente másculo, Adão, Adam, Terra, Chão.
Cresceria saudável entre a loucura reinante, antes e hoje, no questionamento típico de uma criança envolto na mais verdadeira (como se houvessem verdades mais ou menos verosímeis) e profunda religiosidade, a única capaz de erradicar a nossa milenar dor.
Chamar-lhes-iam amor.
Por ele percorreriam os mais variados caminhos, como estrelas cadentes, levando a luz, o calor e a sobriedade alegre de se saber superior ao corpo, ao desejo carnal de matar para viver. No entanto, todos eles, quer nos reze a história segmentos diferentes, pereceram nos diferentes parágrafos que compõem o volume, qualquer que seja o número, da nossa civilização sobre este paraíso, por aqueles que os seguiam, desejando martirizar quem nos permite saber que mártir é palavra que riam com partir, e se eles sabiam que ninguém parte para lago algum, de que nos adiantaria conhecer pelos nomes santidades e martirizações carnais?
Disseram, Deus há só Um.
Apesar de partirem, deixaram cá uma marca, visível apenas à noite, quando à solitude remetemos os corpos cansados e pequenos e nós olhamos vagamente para o céu.
Cada um deles uma estrela, Belém ou outras cujos nomes pronunciados nos soem a estranheza.
A miríade de luminosidades, cada um uma porta aberta para o lado de lá dos astros.
A imensidão e profundeza do infinito mostrando que cada um de nós é ilimitado na verdadeira literalidade da palavra.
Embora pareça que todos nos remetemos a um inferno, literal, elas continuam ali, no céu, a lembrar que de nada somos, mas de tudo viemos. A cada dia uma estrela. Quantas delas por nascer. Um arco-íris talvez. Por cá os olhares dos donos da terra, os frágeis e inocentes animais, as crianças que sugam a maternidade por um seio, os olhares meigos de quem acompanha o esvoaçar lento de bandos de animais terrestres sobre os pastos montanhosos.
Natal? Natal é quando alguém quiser.
O sentimento vem-me em tempo fora de tempo.
Longe vai a Natividade, tem dias o menino, Maria, embora virgem de concepção, sofre as agruras e as dores de uma recente paridez, segurando ao peito a salvação e amamentando o seu fruto, de leite e coração.
José, impoluto, negociando com o dono do estábulo, verdadeira semente de alberguista, oscila pela novidade de ser pai vigilante e conceptor ausente. Ainda não lhe cabem as futuras indagações e o olhar vago para o espaço, de onde terás vindo tu que te fizeste filho sem eu me ter feito progenitor?
Mas sabe-o, ele, precursor de uma parentalidade verdadeira, a doação de labor, tempo e amor a um fruto, sem importar qual a árvore ou seiva que lhe deu vida. Desconhece igualmente, porque a mitigação tecnologia surgiria apenas um longo par de milénios, mais coisa, menos coisa, depois da noite fria no estábulo, que outros houvera antes dele, verdadeiros pais incógnitos de filhos professos.
A realeza metafórica recolheu às suas terras, guiadas não se sabe porque estrela, pois essa ficou a luzir sobre a coordenada celeste que apontava o início do caminho. Levariam o alforge cheio já, pois a leveza do que deixaram em nada se compara ao peso do que aprenderam com a simples presepialidade de uma realeza cujo trono é superior à própria dimensão que vislumbramos.
Ainda por lá ficam os verdadeiros de pureza, os animais e as companhias que os seguem por onde quer que os levem as pastagens, os pastores. Via-os olhar uns para os outros, enquanto o calor se soltava dos seus corpos e aqueciam a barriga e o peito desnudado da Virgem e a pequena cabeça sem coroa de uma criança, qualquer criança.
Aqueles olhos, sempre diferentes, com tonalidades distintas, mais ou menos ovaloides, mais ou menos almendrados, com iris mais ou menos alongada, ainda que quem observe seja o Mesmo, presenciavam pela enésima vez a mesma cena, ainda que em cenário distinto.
Dos céus desceria, sempre, impoluta, uma criança.
De pouco adiantaria saber o sexo, ainda que as vozes reinantes admitam (ou lhes interesse) ser descendente másculo, Adão, Adam, Terra, Chão.
Cresceria saudável entre a loucura reinante, antes e hoje, no questionamento típico de uma criança envolto na mais verdadeira (como se houvessem verdades mais ou menos verosímeis) e profunda religiosidade, a única capaz de erradicar a nossa milenar dor.
Chamar-lhes-iam amor.
Por ele percorreriam os mais variados caminhos, como estrelas cadentes, levando a luz, o calor e a sobriedade alegre de se saber superior ao corpo, ao desejo carnal de matar para viver. No entanto, todos eles, quer nos reze a história segmentos diferentes, pereceram nos diferentes parágrafos que compõem o volume, qualquer que seja o número, da nossa civilização sobre este paraíso, por aqueles que os seguiam, desejando martirizar quem nos permite saber que mártir é palavra que riam com partir, e se eles sabiam que ninguém parte para lago algum, de que nos adiantaria conhecer pelos nomes santidades e martirizações carnais?
Disseram, Deus há só Um.
Apesar de partirem, deixaram cá uma marca, visível apenas à noite, quando à solitude remetemos os corpos cansados e pequenos e nós olhamos vagamente para o céu.
Cada um deles uma estrela, Belém ou outras cujos nomes pronunciados nos soem a estranheza.
A miríade de luminosidades, cada um uma porta aberta para o lado de lá dos astros.
A imensidão e profundeza do infinito mostrando que cada um de nós é ilimitado na verdadeira literalidade da palavra.
Embora pareça que todos nos remetemos a um inferno, literal, elas continuam ali, no céu, a lembrar que de nada somos, mas de tudo viemos. A cada dia uma estrela. Quantas delas por nascer. Um arco-íris talvez. Por cá os olhares dos donos da terra, os frágeis e inocentes animais, as crianças que sugam a maternidade por um seio, os olhares meigos de quem acompanha o esvoaçar lento de bandos de animais terrestres sobre os pastos montanhosos.
Natal? Natal é quando alguém quiser.
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