Musical(mente)
Crónica de Domingo na Bird Maganize.
Fico parado, atrás do cortinado, a ver a luminosidade que se vai espreguiçando entre sombras.
Os paralelos da rua parecem pequenas teclas de piano, sombreadas pelos vários pés que os pisam sem se aperceberem da música que carregam.
Crianças fazem música por elas próprias sem grande necessidades de perceber que é Outono e que as folhas caem, como as pessoas, porque o seu ciclo se soltou das amaras de uma existência pré concebida.
Um pouco como as palavras, que se vão moldando e caindo, desacordadamente ortografias que se movimentam por entre interessados indivíduos que se estimulam ao esquecimento.
Creio que história evolucionária não permitirá que no nosso ADN se eternize a avareza, no entanto, parece ser, nos dias correntes, a louca tendência do consumismo uma forte componente oncológica da nossa condição de doentes.
Talvez seja agora o espectro, o infra humano, a desarmonia de uma sinfonia por não nos sabermos notas musicais tocadas por nós próprios.
Talvez, repito, seja uma negativa forma de ver a positividade.
Afinal, ciclos, círculos, circulo por aí sem me deter na espiralidade de um sentido.
A vida vai vivendo devagar apesar dos dias me saírem curtos à medida, vou alçando uma ruga e outra pelos carvalhos ou plátanos que nos deixam.
Parágrafo.
Ouso fechar os olhos e sentir o calor na cara.
Está um belo dia de chuva luminosa, caem e volitam electrões, alguém faz chover sobre uma viatura, um cigarro é fumado por uma boca desconhecida.
A vitrina ondula ao sabor do vento, mesmo sem se deter.
A roupa arrepia-se, o vento seca-se, o chão humedece a esfregona que o quer lavar.
A vida, sempre a vida, a vida que me faz soçobrar, o meu casaco quente, azul, o sabor a mar que a interioridade de mim tem.
As palavras.
A nuvem que não vem.
Penso muitas vezes no dedilhar de umas cordas de guitarra, no sopro contínuo e na dança do ar rarefeito por entre concavidades e convexidades da mão do flautista. Até as árvores, as esquinas, o primeiro sopro de um bebé, tudo traz música, vibrações que se medem pela quantidade de sorrisos despoletados, pelos olhos molhados, pelo abraço no final.
Olha, é quase Natal.
Nasço sem me ver nascer. Acolhido pelos seres a quem chamo pai, mãe, sei o suficiente de mim para saber que tu és eu, um pouco de mim, sim, um pouco de tudo o que escrevo, sem verbo, sem adjectivo. Escrevo porque sou de mim servo. Da ritmicidade do meu caminhar sobre as teclas de piano que são os chãos que piso.
Parágrafo. Novamente. Canso-me.
Vou viver. Vens?
Acabei onde comecei, como estava, indagando-me sobre as curvas da água condensada que nos orbita a atmosfera. Todo o homem é animal, fera. Mas tem todo o animal é homem. Felizmente.
Resta-nos a complacência com que a natureza nos mira e se arrepia, quando sobre uma luz que já teima em vaguear para outras latitudes um rosto surge sob a sua própria luz, uma mão afasta o cabelo e um universo nasce de novo em forma de beijo na face.
Porque não me nascem letras a cada olhar? Grafiar a mente, o pensamento... A intolerância perante a dualidade, a compreensão da estrada que nos permite navegar sem sermos marinheiros. Ah, os pinheiros. Como sou feito de orvalho de felicidade, ouvido de escuta ao vento encostado a um pinheiro, um cedro. Enquanto ameaça chover, não se cumprem as trovoadas que me lembram a fragilidade sonora de um clarão em forma de corpo que se quer juntinho a nós, no coração.
Fico parado, atrás do cortinado, a ver a luminosidade que se vai espreguiçando entre sombras.
Os paralelos da rua parecem pequenas teclas de piano, sombreadas pelos vários pés que os pisam sem se aperceberem da música que carregam.
Crianças fazem música por elas próprias sem grande necessidades de perceber que é Outono e que as folhas caem, como as pessoas, porque o seu ciclo se soltou das amaras de uma existência pré concebida.
Um pouco como as palavras, que se vão moldando e caindo, desacordadamente ortografias que se movimentam por entre interessados indivíduos que se estimulam ao esquecimento.
Creio que história evolucionária não permitirá que no nosso ADN se eternize a avareza, no entanto, parece ser, nos dias correntes, a louca tendência do consumismo uma forte componente oncológica da nossa condição de doentes.
Talvez seja agora o espectro, o infra humano, a desarmonia de uma sinfonia por não nos sabermos notas musicais tocadas por nós próprios.
Talvez, repito, seja uma negativa forma de ver a positividade.
Afinal, ciclos, círculos, circulo por aí sem me deter na espiralidade de um sentido.
A vida vai vivendo devagar apesar dos dias me saírem curtos à medida, vou alçando uma ruga e outra pelos carvalhos ou plátanos que nos deixam.
Parágrafo.
Ouso fechar os olhos e sentir o calor na cara.
Está um belo dia de chuva luminosa, caem e volitam electrões, alguém faz chover sobre uma viatura, um cigarro é fumado por uma boca desconhecida.
A vitrina ondula ao sabor do vento, mesmo sem se deter.
A roupa arrepia-se, o vento seca-se, o chão humedece a esfregona que o quer lavar.
A vida, sempre a vida, a vida que me faz soçobrar, o meu casaco quente, azul, o sabor a mar que a interioridade de mim tem.
As palavras.
A nuvem que não vem.
Penso muitas vezes no dedilhar de umas cordas de guitarra, no sopro contínuo e na dança do ar rarefeito por entre concavidades e convexidades da mão do flautista. Até as árvores, as esquinas, o primeiro sopro de um bebé, tudo traz música, vibrações que se medem pela quantidade de sorrisos despoletados, pelos olhos molhados, pelo abraço no final.
Olha, é quase Natal.
Nasço sem me ver nascer. Acolhido pelos seres a quem chamo pai, mãe, sei o suficiente de mim para saber que tu és eu, um pouco de mim, sim, um pouco de tudo o que escrevo, sem verbo, sem adjectivo. Escrevo porque sou de mim servo. Da ritmicidade do meu caminhar sobre as teclas de piano que são os chãos que piso.
Parágrafo. Novamente. Canso-me.
Vou viver. Vens?
Acabei onde comecei, como estava, indagando-me sobre as curvas da água condensada que nos orbita a atmosfera. Todo o homem é animal, fera. Mas tem todo o animal é homem. Felizmente.
Resta-nos a complacência com que a natureza nos mira e se arrepia, quando sobre uma luz que já teima em vaguear para outras latitudes um rosto surge sob a sua própria luz, uma mão afasta o cabelo e um universo nasce de novo em forma de beijo na face.
Porque não me nascem letras a cada olhar? Grafiar a mente, o pensamento... A intolerância perante a dualidade, a compreensão da estrada que nos permite navegar sem sermos marinheiros. Ah, os pinheiros. Como sou feito de orvalho de felicidade, ouvido de escuta ao vento encostado a um pinheiro, um cedro. Enquanto ameaça chover, não se cumprem as trovoadas que me lembram a fragilidade sonora de um clarão em forma de corpo que se quer juntinho a nós, no coração.
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