Guardo tudo o que não digo no meu invisível alforge. Estão lá, bem protegidas, até ao dia em que me vença a vontade de viver sem pés nus, chãos, e me alimente das palavras e não dos gestos que teimam em mover as horas e minutos ao encontro da leira sombreada onde, pelo fresco, me deito e descanso.
Guardo o olhar que choveste, deixo as nuvens florirem nos pastos faustos do destino, tacteio mãos e escuridões em busca de um dorso com outras mãos. Curvam-se as curvas da estrada e as margens que me separam da madrugada. Empobrece-me o nada à sombra e resguardo da minha alçada, no noctívago sentimento de aguardar, à candeia ténue da Lua, o suspiro inaudível da vida no meu peito a ancorar...
Comentários