Dest(r)e lado
Acredito que um dia, embora não o mereça, e talvez sem saber como, me deite ao sol e pela claridade apanhe todas as estrelas que a minha pacata ilusão alcança. Talvez os mais desatentos nem se apercebam, outros sentirão algo de diferente quando o nocturno céu calvo de nuvens não lhes soslaiar uma pinta ou outra luminosa. Talvez o primeiro amor no luar de janeiro, sem o habitual filigranado estrelar, se aperceba que já não existem estrelas no céu. Talvez se indaguem as mentes mais científicas sobre tal fenómeno, que varreu de uma só vez e de um só hemisfério todas os corpos celestes providos de luz própria. Que distorção temporal provocaria o desaparecimento simultâneo de estrelas separadas por diferentes UA? Não, não se indague ninguém. As estrelas continuarão luzidias, piscando timidamente, seguras no firmamento, configuradas talvez noutras constelações, a olhar para este pequeno berlinde azul e a pensarem, entre elas, condescendentes, que de toda a criação, uma única continua a orbitar as estrelas que julga ter na palma da mão.
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