Há um rio de água salgada a percorrer um leito sentado. Vai do que vê a paisagem até por fim cair num cabo arredondado, onde dobram os sorrisos. Não traz força nem tumulto. Apenas frases curtas. Um pouco de vidro embaciado. Fumo no ambiente, que nem nevoeiro na nascente. Falta gente. Falta gente. Propositadamente duplicado, para que um dia, quando a torrente indelével, inócua e invisível cessar, possam de ausente dizer, que aquele por dois valia. Não hoje, noutro dia.
Pessach
“Pessach” Crónica do Nada , no Correio do Porto . O puto abana-se uno com a sineta que trina, o braço cansado pende como um ramo seco de árvore que sonha ser galho, anunciando vem aí o compasso!, a opa alva dança e as nuvens riem-se quando o vento lhe atira o resto da brancura pelas costas acima, embrulhando-se na cabeça. Não se demove, continua a badalar num esforço contínuo apenas vencido pela zelosa missão de, além de adolescente, ver chegar ao fim a madrugada procissão, solitária, a cruz acima e abaixo de caminhos, os verdes ao chão, as flores na mão, de cara fechada, uma madeixa dourada rivaliza com o sino zonzo já de tanta sacudidela firme. O vento desiste soturnamente, as nuvens deixam de joeirar a cena e dispersam num certo tom de desprezo, a opa solta-se e cai harmoniosamente sobre as costas arqueadas, mas não sucumbidas, tudo sem que o sino deixasse de tocar. A solenidade foi-se perdendo, sobra agora uma espécie de desejo que tudo termine e possa seguir viagem, arrancar um...
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