Sei o barulho que o autocarro fará quando parar, conheço de cor os sons dos pneus sobre as tampas assíncronas no pavimento. A voz sintetizada da menina que anuncia as paragens, as mudanças de zona, o zumbido que os auriculares vomitam para fora dos ouvidos, o gemido cansado das portas a abrirem. Não conhecia a voz de alguém que pedia, a uma paragem completamente cheia, do fundo de uma cadeira de rodas: "alguém me pode ajudar a subir a rampa para o autocarro?".
Começo a acreditar que, talvez, o som que penso conhecer seja apenas o rugido lento do fundo do tacho a que chamam vida onde nos fazem condimento e estrugido.
Cobre-se a vida na candura o branco e o invisível que perdura, sagrado o dia espreguiça-se pela tarde e é Deus (de quem tudo tive) que sussurra: a vida é o que em nós Vive.
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