Sei o barulho que o autocarro fará quando parar, conheço de cor os sons dos pneus sobre as tampas assíncronas no pavimento. A voz sintetizada da menina que anuncia as paragens, as mudanças de zona, o zumbido que os auriculares vomitam para fora dos ouvidos, o gemido cansado das portas a abrirem. Não conhecia a voz de alguém que pedia, a uma paragem completamente cheia, do fundo de uma cadeira de rodas: "alguém me pode ajudar a subir a rampa para o autocarro?".
Começo a acreditar que, talvez, o som que penso conhecer seja apenas o rugido lento do fundo do tacho a que chamam vida onde nos fazem condimento e estrugido.
Guardo o olhar que choveste, deixo as nuvens florirem nos pastos faustos do destino, tacteio mãos e escuridões em busca de um dorso com outras mãos. Curvam-se as curvas da estrada e as margens que me separam da madrugada. Empobrece-me o nada à sombra e resguardo da minha alçada, no noctívago sentimento de aguardar, à candeia ténue da Lua, o suspiro inaudível da vida no meu peito a ancorar...
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