A vida, de vida propriamente dita, pouco tem. Paga-se a vida, em vez de a viver. Entrega-se tudo a este bicho nojento e grande, a um sistema que de protector tem muito pouco, quotiza-se a vida, muito cara, sem retribuição alguma e, se um dia ensolarado te faz diferente, o contribuinte encarregar-se-à de te olhar, aterrorizado, porque a liberdade de se ser voador atemoriza. Flutua o teu caminho, sem que te deixes atrasar pelos teus passos arrastados.
Guardo o olhar que choveste, deixo as nuvens florirem nos pastos faustos do destino, tacteio mãos e escuridões em busca de um dorso com outras mãos. Curvam-se as curvas da estrada e as margens que me separam da madrugada. Empobrece-me o nada à sombra e resguardo da minha alçada, no noctívago sentimento de aguardar, à candeia ténue da Lua, o suspiro inaudível da vida no meu peito a ancorar...
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