O tempo ameaça arrefecer e eu agradeço. Tenho comigo Garrincha, que sai à rua quando neva, de tão impaciente, ainda que pacato, transforma-me os dias em granizo, saraiva-me a sua vontade de vaguear por montes, um esmolegrino que pernoita em qualquer recanto, desde que quente, desde que local porque, disse-me ele, há poisos imensos que são nenhures e, confessa-me, o seu verdadeiro poiso (soube-o Torga quando o conheceu em vésperas de Natal) era debaixo do seu casaco, entre a pele e a Lua.
Cobre-se a vida na candura o branco e o invisível que perdura, sagrado o dia espreguiça-se pela tarde e é Deus (de quem tudo tive) que sussurra: a vida é o que em nós Vive.
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