E sorriu, por cima da tristeza e das manhãs que se molham mesmo sem orvalhar. Os anos medem-se pelos cigarros que treparam pelos dedos, o arfar ritmado é já batimento de um coração que de tão grande vive fora de si. Não haverá enxada ou ancinho que lhe conheça os calos de cor, nem um sol a pico que lhe veja a sombra. O homem é cajado de si mesmo e busca lá no fundo pelo gargalo, em forma de goteira, o rio que o há-de levar a ribombar pelas margens até chegar ao fim da foz e perceber que o mar é toda a gotícula que nasceu do céu, apenas para orvalhar.
Cobre-se a vida na candura o branco e o invisível que perdura, sagrado o dia espreguiça-se pela tarde e é Deus (de quem tudo tive) que sussurra: a vida é o que em nós Vive.
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