E sorriu, por cima da tristeza e das manhãs que se molham mesmo sem orvalhar. Os anos medem-se pelos cigarros que treparam pelos dedos, o arfar ritmado é já batimento de um coração que de tão grande vive fora de si. Não haverá enxada ou ancinho que lhe conheça os calos de cor, nem um sol a pico que lhe veja a sombra. O homem é cajado de si mesmo e busca lá no fundo pelo gargalo, em forma de goteira, o rio que o há-de levar a ribombar pelas margens até chegar ao fim da foz e perceber que o mar é toda a gotícula que nasceu do céu, apenas para orvalhar.
Guardo o olhar que choveste, deixo as nuvens florirem nos pastos faustos do destino, tacteio mãos e escuridões em busca de um dorso com outras mãos. Curvam-se as curvas da estrada e as margens que me separam da madrugada. Empobrece-me o nada à sombra e resguardo da minha alçada, no noctívago sentimento de aguardar, à candeia ténue da Lua, o suspiro inaudível da vida no meu peito a ancorar...
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