Iniciei esta peregrinação ainda não sabia andar. 
Do ventre ao mundo, do mundo a mim, uma vida inteira de caminho.
Percorro todos estes passos em forma de dia, um a seguir ao outro, na consciência que deixo para trás no caminho vários dias em forma de passos só meus.
Nada tenho. 
O que me caiu no regaço seria do vento ou da vida, de peregrinos que marcham ou de peregrinos que mesmo sem darem um passo terminaram o seu caminho, ainda antes de o partilharem com outros peregrinos. Ou comigo.
A minha dormida é uma casa móvel, de tão pequena e simples cabem todos os que lá desejam pernoitar ou descansar, não a levarei comigo, nem o caminho, apenas os abraços e os acenos, os olhares e as noites de Setembro com seus sabores amenos.
Chegarei ao final do caminho não muito longe do início, apenas para cair nos braços das minhas memórias, despojado de casas, bens e males, levando comigo apenas a peregrinação de quatro pegadas.
Entregarei o cajado à terra, que se encarregará de o transformar em paisagem, para seguir caminho novamente, já sem saber andar, junto a outros peregrinos, passados e futuros, que o tempo desloca-se de forma assíncrona para quem chega à sua catedral.
É, assim, sem vestes ou alimento, que suporto o cajado e faço rota por mais um dia, até o caminho ser caminho.
Deixo-te a paisagem, a companhia, as letras escritas e todas aquelas que nunca soube pronunciar, talvez as recebas quando o teu caminho escrever os meus passos.

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