Pela Primavera vem ligeira a vida, renascida, no calor que se esquece quando de novo a chuva se lembrar de ganhar um espaço ao Sol. Poucos os retratos onde ondulam searas, com um par de mãos dadas, rumo ao inexistente infinito. De que nos querem convencer, de quê?, estes galhos secos que tentam roubar todos os retratos de quem se preocupa em ser apenas um negativo que faz do mundo, mundo? É no dia a dia, sem paz ou alegria, que nos apertam o cerco, que nos incitam a voar sem sair de dentro desta gaiola.
Pessach
“Pessach” Crónica do Nada , no Correio do Porto . O puto abana-se uno com a sineta que trina, o braço cansado pende como um ramo seco de árvore que sonha ser galho, anunciando vem aí o compasso!, a opa alva dança e as nuvens riem-se quando o vento lhe atira o resto da brancura pelas costas acima, embrulhando-se na cabeça. Não se demove, continua a badalar num esforço contínuo apenas vencido pela zelosa missão de, além de adolescente, ver chegar ao fim a madrugada procissão, solitária, a cruz acima e abaixo de caminhos, os verdes ao chão, as flores na mão, de cara fechada, uma madeixa dourada rivaliza com o sino zonzo já de tanta sacudidela firme. O vento desiste soturnamente, as nuvens deixam de joeirar a cena e dispersam num certo tom de desprezo, a opa solta-se e cai harmoniosamente sobre as costas arqueadas, mas não sucumbidas, tudo sem que o sino deixasse de tocar. A solenidade foi-se perdendo, sobra agora uma espécie de desejo que tudo termine e possa seguir viagem, arrancar um...
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