Não é pela noite, mas pelo adormecer que se seguem, nas palavras, as cordas que se arrastam pelo cais enquanto amaro, sem amaras, ao porto que me viu nascer.
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A mostrar mensagens de junho, 2012
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Os corredores quase vazios. Ele vem vermelho de Sol, camisola de alças branca, suja de quem se trabalha, com um saco com pão quente na mão, uma embalagem de queijo e outra de fiambre. Para em frente a uma prateleira de chocolates, mete a mão no calção sujo de tinta, tira uns trocados, olha de novo para a mão, ri-se e tira um chocolate. A felicidade parece ser feita de tirar um doce da prateleira da vida.
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Provavelmente trazida pelo vento, a mudança vai chegando como dentes-de-leão à deriva. E eu sonho que me leve, para um interior quase esquecido, onde lá, aqui dentro, possa fazer uma casa do tamanho de uma aldeia e caiba lá todo o mundo que me vai banhando quando suspiro (e vejo a areia escorrer). Começo a não ter paciência para este modelo degradado.
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Olho em volta e, de repente, estou noutro mundo. As coisas simples estão tão distantes e desvalorizadas, que gostar de sentir a chuva parece despropositado. Lentamente, cercam-nos, criam-nos criados, serventes de uma sistema decadente. Governados sem escrúpulos, enfermos de vida, carentes de ratings em que ser é ter, mais e mais, correndo cada vez mais depressa para longe de nós mesmos. Ofereço-me para ir para uma aldeia do interior, com um curso de água perto, árvores que me atirem sombra em dias de Sol e ruídos em dias de chuva e tempestade. Viver, o supra objectivo desta presença efémera no planeta, passou a ser uma guerra, uma feira de vaidades onde todos são Reis, nus.
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Vendo-me à vida pelos cortes que a seiva lava, quente, nos regressos de uma jornada só de ida. O calor ergueu-se aos confins do que respirou e cala a voz urdida, afaga o frio, ausente, que se amotina no aluno espiralado que brinca e, assim, me ensina. Há.de o tempo contornar dias e, no sossego do meu cansaço, trazer-me ao campanário soalheiro onde pela primeiras vez desvendei-me e, tu, sorrias. Em todos os caminhos descanso das viagens que não fiz, auscultando sentidos do pó que se obstina, sou o aguaceiro previsto e que desagua nas órbitas da minha íris. Não me julguem cego por não ver, tenho mãos entrelaçadas e marés sem oceanos nas abissais do viver.