A motoreta assobia e geme, à frente, enfrentado o frio e a chuva, segue um rosto rugoso ainda mais enrugado pelos olhos semicerrados, um cigarro apagado ao canto da boca. Atrás, mais de 6 décadas seguem agarradas a si, à cintura, com a cara encostada às costas, protegendo-se do frio e da chuva. Uma mão sobe ao peito e afaga o intrépido condutor. Ele sente, o movimento e o calor, não da mão, mas do gesto e sorri. O cigarro cai. Ele não, sobe, mesmo a tempo de enfrentar um pouco mais de chuva. A motoreta assobia e geme. Sem frio, vento e chuva, os corpos não se aproximam, não se afagam e nós não procuramos aquilo de que somos feitos, amor.
Cobre-se a vida na candura o branco e o invisível que perdura, sagrado o dia espreguiça-se pela tarde e é Deus (de quem tudo tive) que sussurra: a vida é o que em nós Vive.
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