Renasceria nesta bolha de terra e água novamente, apenas para sentir o ar frio que se bebe à noite, ou o sorriso sincero e cúmplice de uma criança. Que fosse apenas por uma cevada quente ou pela borra que fica no fundo da caneca, misturada com as migalhas que se afogaram no negro do calor. Que fosse apenas pela amizade ou pelas palavras. Pela experiência de procurar no vazio todos os nadas que desconstroem a realidade. E voltar a casa, feliz, sistólica e diastolicamente completo, rumo a mais um universo, até, por fim, encontrar todos os outros eus que deambularam, sem destino deduzo eu, por multiversos e hexoversos.
Pessach
“Pessach” Crónica do Nada , no Correio do Porto . O puto abana-se uno com a sineta que trina, o braço cansado pende como um ramo seco de árvore que sonha ser galho, anunciando vem aí o compasso!, a opa alva dança e as nuvens riem-se quando o vento lhe atira o resto da brancura pelas costas acima, embrulhando-se na cabeça. Não se demove, continua a badalar num esforço contínuo apenas vencido pela zelosa missão de, além de adolescente, ver chegar ao fim a madrugada procissão, solitária, a cruz acima e abaixo de caminhos, os verdes ao chão, as flores na mão, de cara fechada, uma madeixa dourada rivaliza com o sino zonzo já de tanta sacudidela firme. O vento desiste soturnamente, as nuvens deixam de joeirar a cena e dispersam num certo tom de desprezo, a opa solta-se e cai harmoniosamente sobre as costas arqueadas, mas não sucumbidas, tudo sem que o sino deixasse de tocar. A solenidade foi-se perdendo, sobra agora uma espécie de desejo que tudo termine e possa seguir viagem, arrancar um...
Comentários