Av. Marechal Gomes da Costa, não sei o que me atrai mais, se o brilho oponente e invisível do orgulho com que as árvores ainda seguram algumas das suas folhas, se o desamparado abraço com que umas boas décadas de gente seguram um outro corpo desengonçado, se pelo vício, se por doença, não o sei, apenas o seu íntimo, se por um acaso calhar, hoje em dia raro, de o seu, o íntimo, ser coisa transparente e dotada de honestidade. Pára uma e outra ambulância, Amarante, Felgueiras, os quatro piscas vão trazendo um pouco de urgência que já não é, a porta lateral anima-se e sai em primeiro lugar uma arrastadeira. Ainda não me tinha emocionado, havia de acontecer agora, o Bombeiro, gente dos seus cinquentas, pousa o andarilho e com um carinho que as ruas da cidade me desabituaram a ver amiúde, entra na ambulância, passa o braço em redor do peito abraçando com força a alma de um corpo que não se levanta, içar à vida quem a ela ainda se agarra. O resto veio depois, mas eu tinha já ali o meu quociente, dividendo e divisor na equação de dividir a bondade pelas pessoas e, não fosse estar atento ao horizonte, quase passava despercebida a folha que se tinha desprendido dela própria.

Comentários

Zé Povinho disse…
Sem palavras para comentar.
Abraço do Zé

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