Teria o vento na mão, se não estivesse ocupado a abraçar tufos de sonhos ou suportando-me na grade de madeira de um alpendre imaginário enquanto cai, dentro e fora, chuva real... De onde serão os ventos que sopram? Do intrincado caminho que se faz caminhando ou dos serões solitários solicitados pela vida? O que me resta é deste e doutros universos, descansando por fim num vazio, num nada, num estado de não existência que se dilui a cada madrugada solta. Ser daqui e de lado algum. Olhar e ver o que não se observa. Ser e não ter. Não há questão.
Guardo o olhar que choveste, deixo as nuvens florirem nos pastos faustos do destino, tacteio mãos e escuridões em busca de um dorso com outras mãos. Curvam-se as curvas da estrada e as margens que me separam da madrugada. Empobrece-me o nada à sombra e resguardo da minha alçada, no noctívago sentimento de aguardar, à candeia ténue da Lua, o suspiro inaudível da vida no meu peito a ancorar...
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