Faço de conta que amanhã, aos primeiros pingos de Sol, vou levantar-me como quem planta o mundo, meter a mão na água fria, lavar a cara, meter uns cotos de madeira na lareira, aquecer o café. E, depois, por entre chuvas e aguaceiros, cheirar a terra, que se perfuma diferente todos os dias e noite, e viver um dia inteirinho, com todos os minutos contados, para chegar ao fim, abraçar uma tigela de sopa e deixar que o sono me vá embrulhando como o fumo a enrolar as travessas do telhado.
Guardo o olhar que choveste, deixo as nuvens florirem nos pastos faustos do destino, tacteio mãos e escuridões em busca de um dorso com outras mãos. Curvam-se as curvas da estrada e as margens que me separam da madrugada. Empobrece-me o nada à sombra e resguardo da minha alçada, no noctívago sentimento de aguardar, à candeia ténue da Lua, o suspiro inaudível da vida no meu peito a ancorar...
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