Desserraneada

Enquanto a noite brinda à amizade
o futuro tece-se no reflexo do teu olhar,
cruzo o sorriso sobre a ilusão
bordo-me na vida que se faz trajar.
Ao longe os que me estão perto
fazem da saudade contacto
das lágrimas meu peito aberto
com que, sozinha, decoro meu quarto.
Nasce o dia
e eu nasço o mundo,
nas madrugadas em que vestia frio
e o borbulhar do rio,
a cara cintilava com o desconhecido da geometria.
Longos anos têm cem dias
e semestres que se aninham na secretária
parasse o tempo na cálida primária
em mim, criança, de longe longas férias.
Os adamastores
madrugam austeros de negro,
doutores,
com o horizonte que se faz praxe,
plantam vociferando quem caloiro se ache.
O chão mais alto que o olhar,
a amizade nascendo ao ritmo do poente,
poderá o deserto acabar
quanto noutro dorso nossa face se sente?
É de ouro o metal da latada,
o cume das caves,
o choro do riso,
no dia que começa a noitada.
Busco multidões abrilhantada
quem de mim se faz mãe,
os gritos, o eco que lá vai
nas cores que visto a emoção despida
pelos braços orgulhosos de meu pai.
Ah, os dias que meses fossem
e anos sobrassem para estudar
as sebentas que aos molhos nascem
“será que era disto que o professor estava a falar?”
Sei de cor os degraus da faculdade
os anfiteatros dramáticos e austeros
o palco em que a noite canta a saudade
e a sincera amizade construída.
Uma batina para dois corpos distantes
é aconchego para os medos, segredos e frio,
num rumo sem passeio pela beira-rio.
O olhar fundo que em ti vejo
é a equação que resolvemos com o nosso prolongado beijo.
Percorremos agora avenidas
a cada passo abrimos mil horizontes,
gladiadores modernos de cartola e bengala
esgrimem ambição e sonho comovidos,
o adeus a uma família sem nunca abandoná-la.
A tua mão alcança o Universo
e as lágrimas que trinam ao cair
são o laço firme que atravesso
no beijo que meu corpo quer sorrir.
Face-a-face e a fotografia ao quadrado,
passo levemente os dedos na saudade distante
seguir, erguer, na complacência do que se é amado
desejar que a noite jamais amadureça
parar no respirar o tempo
e deixar-me ser olhar que encante.
Acordar esmaecer
ainda que nunca viva ser sempre eternidade
ser estudante.

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Pessach

Torrada ou Maria?

Até um dia destes