Ainda pela estrada, nos paralelos molhados, com o vidro aberto a conversar com a chuva que vai caindo. É bom ter amigos assim.
Pessach
“Pessach” Crónica do Nada , no Correio do Porto . O puto abana-se uno com a sineta que trina, o braço cansado pende como um ramo seco de árvore que sonha ser galho, anunciando vem aí o compasso!, a opa alva dança e as nuvens riem-se quando o vento lhe atira o resto da brancura pelas costas acima, embrulhando-se na cabeça. Não se demove, continua a badalar num esforço contínuo apenas vencido pela zelosa missão de, além de adolescente, ver chegar ao fim a madrugada procissão, solitária, a cruz acima e abaixo de caminhos, os verdes ao chão, as flores na mão, de cara fechada, uma madeixa dourada rivaliza com o sino zonzo já de tanta sacudidela firme. O vento desiste soturnamente, as nuvens deixam de joeirar a cena e dispersam num certo tom de desprezo, a opa solta-se e cai harmoniosamente sobre as costas arqueadas, mas não sucumbidas, tudo sem que o sino deixasse de tocar. A solenidade foi-se perdendo, sobra agora uma espécie de desejo que tudo termine e possa seguir viagem, arrancar um...
Comentários
Lindo!
É maravilhoso ter uma sensibilidade assim.
Conversar com a chuva
que vai caindo...
Fernando Pessoa escreveu:
"As vezes ouço passar o vento;
e só de ouvir o vento passar,
vale a pena ter nascido"
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São momentos mágicos que só
aqueles que tem uma imensa sensibilidade poética como
a sua são capazes de sentir
e refletir.
Colocando em lindos versos
e palavras a magia dos sentimentos.
É sempre tão bonito tudo o que escreves...
Fica bem.
-Juli-