Embarca no horizonte,
longe as sombras do sustento,
a lavoura que se faz com um lamento,
a mão poeirenta no som da cancela rangida,
aqui só a morte parece ganhar vida.
Olhos embaçados,
nublados,
tolhidos pela recordação que se quer presente
sobre os dias que se avançam
quase de forma demente.
Nasce um quotidiano
ou uma criança,
as fragas enviúvam caladas,
ao redor da solidão um negrume que dança
veste a noite que dura um ano.
Um passo imóvel,
o tempo chove tão lentamente
que até a novidade, quando surge,
vem em aguaceiros.
Forma de gente à soleira
entrecortada num postigo semicerrado,
uma mão,
um cachaço,
a loucura abraçada pelo amor
num sussurro calado.
Ao destino da partida
a voz que pergunta “onde vais?”,
mas já os movimentos crepuscularam
caindo arfando num futuro
que não volta mais…
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