Desisto de tentar escrever no papel e faço-o no chão, primeiro com o pé, depois, aninhado, com ambas as mãos. Está lá tudo, na terra, castanha, como só as raízes conhecem. Ponho-me de pé, tudo agora em perspectiva, sacudo as mãos nas calças, uma gota de suor escorre pela fronte. Com os braços estendidos contemplo a minha (des)arte e, de repente, é como se me abraçasse e adormecesse, com a certeza de jamais acordar.
Guardo o olhar que choveste, deixo as nuvens florirem nos pastos faustos do destino, tacteio mãos e escuridões em busca de um dorso com outras mãos. Curvam-se as curvas da estrada e as margens que me separam da madrugada. Empobrece-me o nada à sombra e resguardo da minha alçada, no noctívago sentimento de aguardar, à candeia ténue da Lua, o suspiro inaudível da vida no meu peito a ancorar...
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