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A mostrar mensagens de setembro, 2010

Leito

Há um lamurio escorrido das frontes, do rio, das cansadas enxadas e das calosas mãos de rosas, em borbulhar desatento às curvas gémeas do leito que namoram à janela do tempo com as faces, com o vento.

Criançalizar

As ameias do castelo eram feitas de imaginação, o fosso cavado tinha laivos de sonhos e Verão, eram as tardes dias a fio, caminhos feitos no ar sem conhecer um navio, mas comandar o mar.
Desisto de tentar escrever no papel e faço-o no chão, primeiro com o pé, depois, aninhado, com ambas as mãos. Está lá tudo, na terra, castanha, como só as raízes conhecem. Ponho-me de pé, tudo agora em perspectiva, sacudo as mãos nas calças, uma gota de suor escorre pela fronte. Com os braços estendidos contemplo a minha (des)arte e, de repente, é como se me abraçasse e adormecesse, com a certeza de jamais acordar.

Contra(´)rio

Senta-se no banco. Um sorriso. Um esgar. Posição 3/4. Agora a cabeça, isso, um bocadinho. Tanto não. Isso. Sorri. (espera) Um bocadinho. Agora sim. Sorri. Clique. Vum! Por artes mágicas, saem 6 ou 8?, tipo passe, esta é oferta. O clarão, o barulho, a carteirinha de plástico, 8 fotografias quentinhas. Meia dúzia de passos fora e, eu sou assim? Curioso como olhamos uma vida inteira para alguém que somos ao contrário.
A vida em 5:46. O tempo em que se vive uma vida. O segundo em que a vida nos pontapeia na boca. O minuto em que parece que tudo nasce à minha volta. A paisagem que muda e eu, mudo, sem escrever, sem claudicar à vontade de ser mais que palavras, apenas e porque me perguntam, a mim, 34 anos de encadernação, o que (ainda) quero ser, quando descobri, há milhentos, que eu sou eu... e vivo bem com isto.
Dificilmente a terra tornará a rodar no sentido que a conheci, para lá, para cá, de uma forma que, a meus olhos, até os meus passos pareciam ter direcção.
Encontrar a sombra mesmo atrás de nós, um vulto que não nos pertence, nos dias em que caminhamos contra o Sol, é aterrador. Como o é ser sombra num vulto que não somos.

Arraia lar

Ainda que me morda, a vida vai despertando-me para as memórias vividas agora, no presente. Percorro novos caminhos, mas o granito parece ser o mesmo que sucumbe primeiro e, depois, altivamente, nos suga aos confins dele mesmo, para sabermos o que é ser estrada, a direcção sem sentido, o fazer parte do percurso sem nunca ter caminhado. O arraial arrailado está, as velas vão iluminando sem o mesmo vigor, agora que a enxurrada de orações passou e ecoa apenas nos olhares que se lançam às vestes alheias ou nos vultos que se vestem de espuma no fundo do copo. A banda bandaliza o que pode, de música apenas o baixo, grave, que me acerta como se alguém batesse ao corpo com pressa de entrar. A música musicada está, ameaçando com os seus espectáculos espectrantes romper o que sobra do tempo que ainda se cola à igreja. A igreja igrejada está, teima em tentar perceber, não eu, que desisti, a característica desumanidade de humanizar a religião construindo muros em torno de altares, destru...

Com bal ido

Pousei a alma sem me lembrar onde e o meu corpo, combalido, vasculha pela mente uma acendalha que ajude a atiçar uma sombra que ilumine o cansaço e o derreta, até o curto pavio sucumbir à memória e a alma, que mora onde não estou, possa surgir novamente.