Fascínios

Fascínios, no Correio do Porto.

Por vezes viver é isto mesmo, com letra pequena, perdido nos ses da vida, assim mesmo, com letra pequena, para me descobrir, sempre, com letra grande, sem me fazer escrever, porque também não sei viver muito bem.

Há algo de mágico que me fascina, sempre, as côdeas duras, o resto dos cereais no fundo do saco de pano que foi útero de pão que me alimentou, um casal de idosos que aguarda no separador central de uma avenida um carro que lhes dê passagem (e a passadeira a dez metros), o levantar do chapéu em saudação, o avental azul-escuro com um bolso central de alguém que traz um “puxo” de cabelo grisalho, uma cara vermelha que exibe o conteúdo de um saco plástico, um par de botas novas, marca feirex como usualmente ouço dizer em tom trocista, um puto que transporta um carro de bombeiros, de plástico, como há muito não via.

Serei feliz apenas com o meu olhar no fundo de uma chávena de cevada, quente, em que me vejo rodopiar no sentido dos ponteiros do relógio, envolto em mim e na espuma.

Serei feliz apenas com os olhares que encontro na vida e me recordam de mim.

Olhares fundos que procuram e encontram, nas pessoas e nos mundos, nas paisagens e nos encantos que as letras me trazem.

Não sei ser mais nada, além do que sou, e isto emociona-me.



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