Pensei que dias sólidos em mim seriam intemporais, mas não, as tardes escorrem languidamente no meu regaço, entranham-se naquilo que penso serem os hiatos entre os meus sonhos, grudam migalhas de tempo no que tinha como infinito.
Esqueço-me das mãos, das minhas, tacteio-as na esperança de me terem algures, entre os pós que se soltam do trabalho, escondendo os que me caíram das estrelas...
Bate-me no peito uma angústia alegre, um pouco de fachada escorada, um cheiro de madeira velha, queimada, como são todas as madeiras que sustentam a vida com o mundo a tiracolo.

Tento não esmorecer, trazer um pigarrear respirado, deixar-me ocultar pelos tempos que sei não existirem.
Escondo-me atrás deste invólucro que me cresce desde que nasci...
Há dias em que ter corpo vale uma tarde chuvosa, nos dias em que os meus olhos, cansados, perscrutam além do que vejo e é lá, atrás do que tenho, que me encontro.

E, agora, vou procurar-me...

Comentários

Miguel

...gosto imenso de ler as tuas palavras...
amálgamas de metáforas
e
jogos de vocábulos seguros.

...Amigo...
agora tal como tu...
"...vou procurar-me..."

xis létinha
Eli disse…
Já experimentaste ler isto para alguém?

:)

Belo!

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