fotografia de Norberto Valério

Vejo horas nos fragmentos
das vidas
que se abatem em mim.

Quebro tempos e memórias
nos ponteiros que me viajam,
vendo dias e histórias
e arestas que se soltam
do meu olhar cego.

Pauto momentos
em indeléveis estalidos,
o tempo não se compadece do relógio,
fugaz e austero
lança esquecimentos nas mãos
e sonhos
de quem do fino frio fiava
os suspiros
de quem não chegava.

Mudo, agora,
restam-me apenas horas que não voam,
minutos que anunciavam fremente vapor
escasseiam,
como lenços e abas que mãos tremeluzindo amor
passeiam.

Amparo a solidão
da madeira cansada dos bancos
e do uivo gasto do vento,
soçobrando à ilusão
de quem me olha sem ver
ausculto a dimensão dos momentos,
não sou a espera adiantada do início
apenas prenuncio de nome:
fim-dos-tempos...

Comentários

Serenidade disse…
Sempre um prazer enorme ler-te,
sempre com histórias e estórias....

Voltei!

Serenos sorrisos
É quando o tempo se reparte em pedaços contados ao segundo.. quando dele nada parece já existir. É quando perdemos a noção do que temos em nós para simplesmente deixarmos de nos mover..
ás vezes dá mesmo vontade de parar para no segundo a seguir ser tocados ao vento e a toda a bolina percorrermos meio mar.....

Um beijo
Silvia Madureira disse…
Olá:

Tempo...

Antes de mais...adorei a imagem porque faz-me lembrar alguns momentos que passei na estação dos comboios.

Não foram momentos excelentes...foram momentos de espera. No entanto, adoro estações de caminho de ferro porque elas escondem histórias muito bonitas de partidas e regressos...

É daquelas coisas que gostámos e nem sabemos muito bem porquê...

Talvez ...porque seja "agarrada" ao passsado e guarde tudo em baús.

Essa imagem está muito bem enquadrada com o texto.

Um poema com uma imagem ganha sempre um extra colorido para além daquele que já tem...

Eu adoro imagens...também...e a preto e branco...também...

O teu texto...fala de todos os momentos que passámos...todos nós e que não são indiferentes ao tempo.

O que mais me custa é a espera...fico ansiosa, enervada...nunca soube esperar pacientemente...mas espero!

Haverão esperas pacientes?

beijo
Pan disse…
Sim. É esse o nome. Que fazer? "Tudo o que tem princípio tem fim", é lei da física.

Queríamos a intemporalidade do Tempo, mas a deste tempo?

Tudo recomeçará. Sem nós. Talvez.

Gostei muito de como escreves e descreves. :)
Tony Madureira disse…
Olá,

Belo enquadramento.


Abraço
José Lopes disse…
O tempo do relógio e os tempos da nossa vida e dos nossos desejos nem sempre são coincidentes. O nosso tempo é o que dele fazemos com aquilo que construímos ou criamos.
Cumps
mariavento disse…
O tempo da poesia.Da bela poesia.

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