Chuva de verão
Desde o tempo que escrevi aqui pela última vez, a única diferença é a chuva tímida que cai lá fora.
Curioso auscultar a opinião das pessoas, que varia consideravelmente de dia para dia (e momento para momento), na semana passada era um calor abrasador, que fazia jus às previsões catastróficas do Verão deste ano como sendo o mais quente dos últimos 25 anos. Hoje (e não apenas hoje) ter que ouvir a chuva cair provoca-me um conforto maior ainda do que imaginar estar a ouvir o vento soprar no telhado de uma cozinha grande, aliás casa, com o calor de um braseiro. Parece-me que as opiniões acompanham os tempos modernos, varia com a mesma facilidade com que se muda de canal e disto sei do que falo, não fosse eu um zapper incondicional, tirando as vezes, raras, em que apanho um canal que gosto.
Tenho andado com dores de cabeça, sinal da necessidade de descanso ou simplesmente a destruição de algumas sinapses, mas não queria deitar-me sem vir aqui deixar umas linhas. Confesso que tenho andado longe deste blog, mesmo longe dos meus cadernos (e são alguns), para escrever o que quer que seja, tal como sempre. Mas hoje, não por ser domingo, não por chover, apenas porque sim, resolvo-me vir aqui, privando-me ao barulho da chuva. Tenho à minha volta todas as personagens que vivi e ainda não escrevi. Motiva-me saber o quanto tenho que escrever, embora me apavore o facto de eventualmente não saber quanto tempo tenho. Queria que soubesses que aqui, em mim, vive sempre um pouco de ti, seja numa personagem vista, vivida ou ainda por inventar. Se calhar não sabes que vivias até te leres num poema meu. Acredito que sim e não te surpreendas, comigo aconteceu o mesmo, descobri-me quando me li num poema que escrevi. Perdão, como possuo o condão de viver com o escritor (ia escrever pseudo antes), descobri-me no momento em que ele me pensou, idealizou e deu vida. Talvez por ter nascido assim, tenha pouca propensão para viver apenas num local. Na realidade, o que sou está repartido em tudo o que encontro, o que torna tão difícil sentir-me bem aqui, sabendo que poderia estar ali e, de facto, estou... Mas os tempos mudam, os reconhecimentos também, curiosamente a qualidade que mais admiro na mudança é a sua consistência, tudo muda, embora permaneça no mesmo local.
Paro um pouco e olho à esquerda. Tenho uma velha personagem comigo. Tento imaginar onde a poderei encaixar, mas não encontro local ou posição adequada. Um dos motivos pelo qual adio a escrita é a falta de paisagem onde plantar todos estes seres que habitam na minha morada, penso em várias histórias e na verdade até possuo algumas, mas não encontro narrativa para a maioria. Penso nelas como trovões ou relâmpagos, não precisam de cenário adequada, além das condições meteorológicas normais, apenas surgem, troam e desaparecem, para surgirem não se sabe quando.
Esta minha característica de perfeição ou (tentativa de) controlo impede-me de escrever mais, simplesmente porque quero que as personagens e vivências imaginári0-reais tenham um livro, sejam mais perfeitas que o momento actual, esquecendo-me obviamente que o momento actual é sempre o mais perfeito, embora compreenda algumas das personagens, como este simpático casal à minha direita, que preferem surgir, anunciarem-se e, depois, trazerem com eles todo o cenário, tempo e até indumentária... Então o que fazer? Bem, na realidade não sei. Para as personagens com vontade própria escrevo histórias, apenas porque pedem com educação, para as outras, eventualmente sairão um poema ou um pequeno texto, apenas para sentirem, elas, que encontrarão sempre solo fértil, mesmo que cresçam pouco.
Gosto disto. Gosto de vir escrever sem ter nada em mente e tudo começar a ajustar-se, a sair normalmente e fico a pensar para mim mesmo, que pena será amanhã acordar e ter esquecido tudo isto, as intenções.
Habitam em mim mais do que a parte de um todo. De facto, transporto comigo os tempos antecedentes, presentes e consequentes, como se todos caminhos que pudesse percorrer tivessem já traçados e vividos, como se num só segundo vivesse mais do que em infinitas vidas passadas e futuras. E, sabes, não me causa transtorno, não me aflige ou angustia, não me causa ansiedade. Apenas me formigam os dedos e a imaginação, com a vontade que tenho de pegar nas palavras e emoldurar corações.
Até já, porque depois de leres isto, eu serei também um pouco de ti e tenho a certeza que, fechando os olhos momentaneamente, poderás sentir uma ligeira brisa no rosto. Não estranhes, comigo aconteceu o mesmo.
Curioso auscultar a opinião das pessoas, que varia consideravelmente de dia para dia (e momento para momento), na semana passada era um calor abrasador, que fazia jus às previsões catastróficas do Verão deste ano como sendo o mais quente dos últimos 25 anos. Hoje (e não apenas hoje) ter que ouvir a chuva cair provoca-me um conforto maior ainda do que imaginar estar a ouvir o vento soprar no telhado de uma cozinha grande, aliás casa, com o calor de um braseiro. Parece-me que as opiniões acompanham os tempos modernos, varia com a mesma facilidade com que se muda de canal e disto sei do que falo, não fosse eu um zapper incondicional, tirando as vezes, raras, em que apanho um canal que gosto.
Tenho andado com dores de cabeça, sinal da necessidade de descanso ou simplesmente a destruição de algumas sinapses, mas não queria deitar-me sem vir aqui deixar umas linhas. Confesso que tenho andado longe deste blog, mesmo longe dos meus cadernos (e são alguns), para escrever o que quer que seja, tal como sempre. Mas hoje, não por ser domingo, não por chover, apenas porque sim, resolvo-me vir aqui, privando-me ao barulho da chuva. Tenho à minha volta todas as personagens que vivi e ainda não escrevi. Motiva-me saber o quanto tenho que escrever, embora me apavore o facto de eventualmente não saber quanto tempo tenho. Queria que soubesses que aqui, em mim, vive sempre um pouco de ti, seja numa personagem vista, vivida ou ainda por inventar. Se calhar não sabes que vivias até te leres num poema meu. Acredito que sim e não te surpreendas, comigo aconteceu o mesmo, descobri-me quando me li num poema que escrevi. Perdão, como possuo o condão de viver com o escritor (ia escrever pseudo antes), descobri-me no momento em que ele me pensou, idealizou e deu vida. Talvez por ter nascido assim, tenha pouca propensão para viver apenas num local. Na realidade, o que sou está repartido em tudo o que encontro, o que torna tão difícil sentir-me bem aqui, sabendo que poderia estar ali e, de facto, estou... Mas os tempos mudam, os reconhecimentos também, curiosamente a qualidade que mais admiro na mudança é a sua consistência, tudo muda, embora permaneça no mesmo local.
Paro um pouco e olho à esquerda. Tenho uma velha personagem comigo. Tento imaginar onde a poderei encaixar, mas não encontro local ou posição adequada. Um dos motivos pelo qual adio a escrita é a falta de paisagem onde plantar todos estes seres que habitam na minha morada, penso em várias histórias e na verdade até possuo algumas, mas não encontro narrativa para a maioria. Penso nelas como trovões ou relâmpagos, não precisam de cenário adequada, além das condições meteorológicas normais, apenas surgem, troam e desaparecem, para surgirem não se sabe quando.
Esta minha característica de perfeição ou (tentativa de) controlo impede-me de escrever mais, simplesmente porque quero que as personagens e vivências imaginári0-reais tenham um livro, sejam mais perfeitas que o momento actual, esquecendo-me obviamente que o momento actual é sempre o mais perfeito, embora compreenda algumas das personagens, como este simpático casal à minha direita, que preferem surgir, anunciarem-se e, depois, trazerem com eles todo o cenário, tempo e até indumentária... Então o que fazer? Bem, na realidade não sei. Para as personagens com vontade própria escrevo histórias, apenas porque pedem com educação, para as outras, eventualmente sairão um poema ou um pequeno texto, apenas para sentirem, elas, que encontrarão sempre solo fértil, mesmo que cresçam pouco.
Gosto disto. Gosto de vir escrever sem ter nada em mente e tudo começar a ajustar-se, a sair normalmente e fico a pensar para mim mesmo, que pena será amanhã acordar e ter esquecido tudo isto, as intenções.
Habitam em mim mais do que a parte de um todo. De facto, transporto comigo os tempos antecedentes, presentes e consequentes, como se todos caminhos que pudesse percorrer tivessem já traçados e vividos, como se num só segundo vivesse mais do que em infinitas vidas passadas e futuras. E, sabes, não me causa transtorno, não me aflige ou angustia, não me causa ansiedade. Apenas me formigam os dedos e a imaginação, com a vontade que tenho de pegar nas palavras e emoldurar corações.
Até já, porque depois de leres isto, eu serei também um pouco de ti e tenho a certeza que, fechando os olhos momentaneamente, poderás sentir uma ligeira brisa no rosto. Não estranhes, comigo aconteceu o mesmo.
Comentários
E a brisa tocou-me de mansinho no rosto, como deve ser qualquer gesto... quando trazida pela 'brisa' da escrita de um amigo!
Lindo e solto este teu divagar!
Fica bem!
... sensibilizada pelo olhar em 'fragmentos'!
Beijocas
Cumps
isamar