Um abraço

O tempo não é aquilo que pensamos, tão pouco o que já ouvi (o tempo somos nós que o fazemos). O tempo vai talhando, esculpindo, desbastando e desbravando aquilo que em nós existe e não conhecemos... E quando conhecemos, mas não queremos ver, trata de nos atirar à face as arestas dos nossos próprios ângulos... Por outro lado (agradavelmente) trata de nos ventar com carícia todas as folhas de Outono que perdemos e julgamos esquecer.

Tenho a meu lado um sonho, daqueles que viveram e continuam a viver ainda que para lá do que vejo. Fala-me de um sonho sem fronteiras, umas paredes erguidas a um céu baixo com nuvens húmidas de candura e estrelas que parecem pintadas nas pálpebras dos meus olhos fechados. Fala-me das paredes, das pinturas dos amigos, dos abraços dados e nunca perdidos, dos beijos que espelham um pouco do carinho das estrelas por nós.
Sussurra-me do bem-estar, do encontro com o esquecido, da lei de não ter leis, dos risos das crianças com cores de arco-íris, das passadas rápidas no cascalho que faz os caminhos espirais. Mostra-me a planta, o projecto, as árvores, os sorrisos que chegarão dos trilhos que me levam da palma da minha mão a cada um dos dedos... A lareira a crepitar um lume que arde por dentro, temas e invocações novas, competições sem concorrentes, apenas participantes, cabeças encostadas a ombros, suspiros e uma plenitude que alcança todo e qualquer lugar inexistente do Universo.

Beija-me, envia-me um abraço pelos olhares de outras pessoas e pousa a mão no meu ombro direito. No escritório vazio (ou num qualquer cubículo, que eu peço apenas conforto para a alma e para este corpo que me mantém dentro) ecoa o som de um sorriso, uma gargalhada rasgada que parece encher o peito de ar, o meu peito... O Sol brilha por momentos, embora seja noite, tu partes, para qualquer local que existe em todo o lado, mas onde as minhas mãos não chegam e fico aqui, a olhar, a ouvir música que nem sabia que tocava, escutando ainda o riso distante e tão dentro do meu peito... Dentro dos olhos trago a planta, ainda, o projecto, todos os traços e caras de quem comigo se cruza, os alicerces, as árvores de fruto e o fruto que outros chamam Amor, está tudo aqui e embora esteja completo sei que vou dormir e acordar com as mãos vazias...

Embora tenha outras, estas foram as letras que saíram, directamente de ti, para mim, porque tudo o que te dei, foi tudo aquilo que me deram um dia, umas folhas caídas, um sorriso e um sonho em forma de terra cultivada por mãos de gente. Espero que gostes.

Comentários

Anónimo disse…
Não tens mãos vazias... Tens as mãos prontas e abertas para receber o que aí vem... Em sonhos de algodão doce, com os pés no chão.
Abre-as bem...
Bjs de Luz*
e embora esteja completo sei que vou dormir e acordar com as mãos vazias...

Não não vais. Alguém tão rico como tu nunca terá as mãos vazias.

Beijinhos
antónio paiva disse…
Um bom texto reflexivo.

Abraço
PoesiaMGD disse…
Conforto para a alma... tudo quanto precisamos e procuramos...
Um abraço
Olá meu querido amigo José Miguel, lindo texto... Acredita em mim jamais terás as maõs vazias!!!
Lá a teu lado estará a minha amizade, nas tuas maõas o meu coração.
Beijinhos de carinho.
Fernandinha
Deve ser da sensibilidade da ultimamente... mas senti cada palavra.
Parece que se encaixam algures nos trilhos da minha cabeça..

"O Sol brilha por momentos, embora seja noite, tu partes, para qualquer local que existe em todo o lado, mas onde as minhas mãos não chegam e fico aqui, a olhar, a ouvir música que nem sabia que tocava, escutando ainda o riso distante e tão dentro do meu peito..."

É sempre a maldita saudade que nos magoa, que faz fugir o tempo que parece tão pouco...

Gostei de te ler...

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