Quando eu era como eu fui
A Ana encontrou montes de folhas de coisas, mesmo coisas, que escrevi. Olhar para trás e ler, ver, sentir aquilo que fui, é bastante estranho. Sou eu, sim, mas não o eu que se formou. Sinto-me como uma casa, autoconsciente, que se olha enquanto tijolo, alicerce ou cimento e não se reconhece. Aquilo ali, sabes, direi eu a alguém que me guarde as tardes frias quando os meus olhos dormirem, aquilo ali também fui eu.
São uma série de contos, alguns que gosto e talvez os venha a digitar aqui, enquanto posts, poemas e algumas coisas escritas, em forma de desabafo. Embora não tenha passado muito tempo, é curioso, para mim, não se esqueçam que este post é para eu mesmo ver quando eu era como eu fui, olhar para trás, para o dia de ontem que já não existe e constatar que muito do que escrevi ficou preso pelo caminho, sombras e silvas gastas e secas, velhas e mortas.
Há muitos anos, sim, mesmo muitos, nos primórdios do meu namoro com a Ana, ela, conhecendo a minha artéria (em contraste com a veia) poética, compilou (ou seja, recolheu e digitou, pois sempre escrevi bastante "à mão") e imprimiu tudo num registo em tudo semelhante a um livro... Só agora constato que esta ideia de escrever para um livro, ao invés de escrever para um caderno, é antiga e teve uma primeira edição nos idos anos de quanto eu era como eu fui.
Cheguei há pouco de ver o Sérgio Godinho. Há pessoas que tratam bem as palavras, não há?
Ele falava e tudo era esclarecedor, mas quando tocava, quando as mãos batiam nas cordas e as faziam vibrar, as notas desprendiam-se e saltavam, voando como restos de fogo-de-artifício numa noite de arraial. Algumas pareciam ter vida, brilhando, batendo no tecto, nas paredes, dividindo-se em várias ou pura e simplesmente apagando-se poucos instantes depois de se soltarem. Por que será que algumas notas têm vida? Quem as alimenta? Será quem as canta, quem as ouve, quem as sustém no peito e no olhar?
A maior virtude do lançamento do meu livro, da "cerimónia" propriamente dita, é ter possibilitado retomar o contacto com amigos de longa data, tão longa que lembro-me deles desde que me lembro ser pessoa (mesmo de outras vidas enquanto pessoa). Fico feliz, intimamente, sem floreados ou pseudo-arquétipos, por ser como sou e ter muitos e bons amigos.
Ah! Já não me incomoda o facto de eu querer "falar" sobre a amizade e outras "coisas" que são o combustível do meu coração e não o conseguir. Há coisas que não se falam, não se escrevem, apenas se são. E estas coisas não são coisas.
O passar das horas não costuma perdoar e embora eu saiba que não existem, saber que elas sucumbem a cada 60 segundos conquista-me o respeito. É por elas, pelas horas, que vou desligar o computador e dormir...
São uma série de contos, alguns que gosto e talvez os venha a digitar aqui, enquanto posts, poemas e algumas coisas escritas, em forma de desabafo. Embora não tenha passado muito tempo, é curioso, para mim, não se esqueçam que este post é para eu mesmo ver quando eu era como eu fui, olhar para trás, para o dia de ontem que já não existe e constatar que muito do que escrevi ficou preso pelo caminho, sombras e silvas gastas e secas, velhas e mortas.
Há muitos anos, sim, mesmo muitos, nos primórdios do meu namoro com a Ana, ela, conhecendo a minha artéria (em contraste com a veia) poética, compilou (ou seja, recolheu e digitou, pois sempre escrevi bastante "à mão") e imprimiu tudo num registo em tudo semelhante a um livro... Só agora constato que esta ideia de escrever para um livro, ao invés de escrever para um caderno, é antiga e teve uma primeira edição nos idos anos de quanto eu era como eu fui.
Cheguei há pouco de ver o Sérgio Godinho. Há pessoas que tratam bem as palavras, não há?
Ele falava e tudo era esclarecedor, mas quando tocava, quando as mãos batiam nas cordas e as faziam vibrar, as notas desprendiam-se e saltavam, voando como restos de fogo-de-artifício numa noite de arraial. Algumas pareciam ter vida, brilhando, batendo no tecto, nas paredes, dividindo-se em várias ou pura e simplesmente apagando-se poucos instantes depois de se soltarem. Por que será que algumas notas têm vida? Quem as alimenta? Será quem as canta, quem as ouve, quem as sustém no peito e no olhar?
A maior virtude do lançamento do meu livro, da "cerimónia" propriamente dita, é ter possibilitado retomar o contacto com amigos de longa data, tão longa que lembro-me deles desde que me lembro ser pessoa (mesmo de outras vidas enquanto pessoa). Fico feliz, intimamente, sem floreados ou pseudo-arquétipos, por ser como sou e ter muitos e bons amigos.
Ah! Já não me incomoda o facto de eu querer "falar" sobre a amizade e outras "coisas" que são o combustível do meu coração e não o conseguir. Há coisas que não se falam, não se escrevem, apenas se são. E estas coisas não são coisas.
O passar das horas não costuma perdoar e embora eu saiba que não existem, saber que elas sucumbem a cada 60 segundos conquista-me o respeito. É por elas, pelas horas, que vou desligar o computador e dormir...
e também porque a Ana já aqueceu a cama :)
Comentários
beijo
Um abraço!