Restolhos...

Uma semana cheia, em todos os sentidos, sim, inclui-se o sentido "gula" que, nesta época festiva, enche o meu corpo com amêndoas e todo o tipo de doces típicos e atípicos.
Andar de novo de comboio e autocarro fez-me despertar ou acordar de uma hibernação lenta, daquelas em que pensei não voltar a acordar, mas a vida leva-nos para vários lados, sempre da forma que deseja e, assim, tomei de novo contacto com as formas disformes de pessoas que não são gente... Tinha-me esquecido das faces mais pálidas, dos sorrisos escondidos em faces "gargulizadas".
É impossível não olhar para o mar de pessoas, ondas constantes em movimentos, e não pensar sobre o que nos move, as necessidades normais, as vulgares regras da sobrevivência.
Sento-me nos lugares vagos ou deixo-me ir de pé, a oscilar entre curvas, paragens e arranques, ultrapassagens ou o marejar típico das estradas portuguesas, escondido atrás da capa de um livro, onde misturo fantasia com realidade, numa alquimia entre personagens fictícias, do livro, e as reais que se sentam, levantam e passam por mim. Não recordo o dia, era de manhã, pouco antes das 9:00, quando me sentei e, pouco depois, sentam-se duas senhoras, separadas por uns bons 25 anos. É impossível deixar de admirar a diferença tecnológica entre as duas. Ambas se preocupam com o seu cabelo e aparência, a mais velha tira da carteira um pequeno espelho cor de marfim e com pequenos toques arranja o cabelo, virando a cara poucos graus para ambos os lados, para ver melhor os olhos, a pintura, as madeixas a descer pelas têmporas. A seu lado, a mais nova, retira um telemóvel. O olhar mais incauto não se aperceberia que se trata de um telemóvel de terceira geração, com câmara para vídeo-chamada e foi assim, à força da tecnologia, que abriu o telemóvel e olhou para ele, vendo-se no visor, mexendo o telemóvel na direcção e inclinação necessária e fechando-o de seguida, após uma vistoria matinal... A diferença das tecnologias, as mesmas necessidades. Faz-me pensar que volvidos tantos séculos, ainda nos combatemos pelas mesmas necessidades, o que mudou foi, de facto, a tecnologia…
Passei uma semana a guardar episódios, a arquivar referências e códigos, daqueles que posso consultar quando me esqueço do livro que costumo ler… Pensei que seria hoje, domingo à noite, que teria tempo para escrever todos estes episódios, mas não…
Ainda não será agora que escrevo tudo o que desejaria, até porque há episódios que após visualizados têm que ser degustados, vividos, compreendidos, para depois verem a luz do dia…

Comentários

Anónimo disse…
Gosto mesmo da forma como escreves... tenho pena que não tenhas mais tempo.. para poderes dar-nos todos essas palavras... que nos fazem pensar e pensar e repensar!

Adorei o texto!
Anónimo disse…
A tecnologia é realmente uma das diferenças entre gerações. Até mesmo entre pais e filhos de tenra idade. cada vez mais isso está em discussão!

Arranja tempo para mais umas palavras. Cá estarei para te ler!

Bom início de semana! *.*
Serenidade disse…
Olá amigo,
pois verão a luz do teu dia. Certamente que ressurgirão e nós reveremos em cada uma das letras dos próximos episódios as cores, os odores, os risos, as emoções, tudinho, tens essa capacidade maravilhsa: de fazermos sentir toas as tuas histórias, no agora, enquanto te lemos.

Até breve.

Sorrisos serenos

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