Chovia tanto que ele pensava morar no fundo do mar, separado do infinito azul líquido por uma fina tela de vidro. O vento, quando uivava, parecia um navio e, assim, fechava os olhos e imaginava-se num barco, daqueles pequenos, onde não cabe um remo, apenas existe um pequeno espaço para um punhado de sonho e ilusão. Quando a ondulação o embalava ele deixava-se adormecer, para logo depois acordar, dentro do mar que é o peito de quem sonha. E assim, enquanto dormia, o sonho e ilusão saltavam, como peixe acabado de pescar, e caíam novamente ao mar, deixando-se cair ao sabor da corrente, para que outros que não dormissem os vissem lá no abismo onde habitavam e pudessem, também, sonhar. Acordava e via-se no barco, ondulando, mas no momento em que olhava para o seu pequeno barco e não via o seu punhado de sonho e ilusão, acordava. Para se ver encostado ao vidro, contra o qual o vento atirava pequenas gotas de chuva. E estas, cansadas, escorregavam e contavam-lhe b...