Acordar

A noite
passou já por mim três vezes,
dilacerou o olhar
nas arestas da vida,
nas estradas vagas e molhadas
parou,
sentida,
enquanto o atropelo do quotidiano
pendia ao abismo,
as mãos tocaram-se de novo
fermentando
na alma a sina,
na pose
à saudade,
que nos reste além
da crua vida,
a dignidade...

Mandou dizer-me o dia,
que é tarde na noite
a hora que construo
à sombra
de memórias não vividas,
não minhas.
O sorriso calou a embaixada
fastidiosa
de mesquinhez,
rugiu
e partiu,
assombrado por um espelho
alado
e furtado
às mãos da falsa pacatez.

Inspiro,
músculo voluntário do viver,
que tentam amordaçar
o olhar e silenciar o amor,
dos que pensam estar eu
em dor,
sabem tão pouco que sou
a acordar...

Comentários

Anónimo disse…
Presenteias-nos sempre com bela poesia...

jinhos e boa semana

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