Vida
Diz-me vida,
que queres que faça?
Roubas o ar que respiro,
partes os vidros onde me encontro,
sujas com lama e sangue
estes meus sonhos que são,
afinal,
um não distante retiro…
Não me deixas chorar,
lágrimas saltam sem medo e toldam-me,
não é só a visão,
é o exprimir.
Transformas o sorriso em pedra
e o júbilo de falar num torpor,
um movimento desconexo dos lábios
que não te beijam,
gritam,
arfam,
respirando muco que em meus pulmões arde,
queima o meu ser com infinita dor.
Aqui me tens,
prostrado a teus pés,
Corta minha cabeça assim como fazes ao sorriso,
tens coragem?
Coitada de ti, vida,
que nada mais és que uma vazia miragem…
Salta de mim a fúria escondida
e ri-se de ti,
de tuas tramas e encruzilhadas,
da figura que criaste com suor e saliva,
julgavas tu que me moldavas?
Vences-me,
desvias de mim o sentido,
o rumo da rosa dos ventos,
o cabelo que descai a meus olhos
e me fecha o pensamento.
Mas continuo aqui,
penso em ti,
tento entrar nessa teia,
mas meu mundo é deste lado,
olhando-te sem ter predefinida uma ideia,
descobrir que no sorriso,
atrás de um rosto fechado,
surge o crepitar do lume,
o amor na alma sem aviso.
Julgavas que conseguias enganar-me?
Dás-me papel e caneta,
fazes surgir uma nuvem no céu
e pensas que eu,
sim, eu, julgas que sou como tu?
Ah! Deixa-me rir!
Eu construo canções,
canto monumentos e solto estrelas,
dou asas à água para que corra em tições,
e isto fora de ti,
não sabes que existo,
mas digo-te que sei mais eu sobre ti, vida,
do que tu mesma sobre mim,
fazes correr o mundo,
tiras o tapete a que em ti acredita,
falsa!
Manténs-te afastado,
debruçado neste velho muro coberto de musgo,
é ele uma forma de ti, vida,
e eu...
Olho-te, levas todos contigo,
deito um último olhar melancólico,
triste sina,
pela enésima vez recuo continuar,
não quero fazer parte desse mundo,
dos dogmas que fazem chorar!
Criaste-me,
jarros brancos florem em silvados,
o pólen cai e seca as lágrimas
e eu não sei o que faço aqui,
apoiado numa folha branca,
tento lutar contigo com esta caneta
e nas palavras que espalho,
mas és mais forte do que eu…
Penso que não existo,
sou o reflexo de alguém que quer sair de ti.
Dá vida a uma grande massa de carne humana,
sonha sonhar livremente
e refugiar-se na alma errante,
mas não resulta…
Desisto!
Vida, aqui me tens!
Faz de mim o que quiseres,
rasga-me as entranhas com essa garra abominável,
tira-me os olhos que te vêem
e cose o sorriso que te atemoriza,
mas os sonhos, não, os sonhos continuam,
semeio-os aqui, numa folha de papel,
numa conversa de café,
no afago a uma criança,
no lento escutar das lamúrias alheias,
no abraço a uma árvore queimada…
Não podes combater isto, vida,
combato os teus ideais,
submeto-me a teu remoinho espiral,
sorris pensando que me rendi,
minha querida,
não faço de ti inimiga,
estou cá, em ti, vida,
mas em breve partirei,
voarei de novo para os sonhos,
sulcarei mares arenosos em busca de um beijo…
Pensas que me deglutes,
abres teus braços pensando que eu vou,
mas tu não me queres abraçar,
queres dar-me o beijo da morte,
sugar meus sonhos,
o futuro que por mim passou,
o murmúrio arrastado
que é eu mesmo
a chorar…
Não julgues que te destruo,
não te odeio,
vejo que não és verdade,
és apenas algo que não sabes que és,
como uma flor que nasce num jardim…
Beijo-te, vida,
porque te amo,
estimo,
louvo teu rápido esgar,
mas não me chames,
não estou mais em ti,
és minúscula,
rodopias como um velho pião
na palma da minha mão.
Controlo-te,
mas logo vens a mim,
como o conhecido sacrifício a que digo sim,
giro agora na tua mão
e tu sorris de escárnio,
Amo-te!,
Foi de mais para ti não foi?
Não é isto forma de viver,
resiste-se como o velho amolar
roça a faca na pedra
e dá a pedra a face à faca,
mas existem os dois.
Afia meus sentidos,
dá-me olhares negros como de um anjo
e vem até mim, como estes raios de sol
que fazem sombra sobre o que escrevo,
transformam minha mão em vida,
geram duas canetas,
duas penas que acentuam a mágoa…
Paro na minha quietude,
abandono minhas sombras
e são elas que te escrevem,
vê-me a olhar o sol,
fecho os olhos e vejo globos azuis,
pássaros de cristal que voam em mim,
mas não sabes o que isto é pois não?
Estás muito atarefada...
Permito que sombras te escrevam
como se as lágrimas arrancassem o choro,
como se a foz chamasse o rio da nascente…
Eu continuo aqui,
olhando-te,
confuso,
indiferente…
que queres que faça?
Roubas o ar que respiro,
partes os vidros onde me encontro,
sujas com lama e sangue
estes meus sonhos que são,
afinal,
um não distante retiro…
Não me deixas chorar,
lágrimas saltam sem medo e toldam-me,
não é só a visão,
é o exprimir.
Transformas o sorriso em pedra
e o júbilo de falar num torpor,
um movimento desconexo dos lábios
que não te beijam,
gritam,
arfam,
respirando muco que em meus pulmões arde,
queima o meu ser com infinita dor.
Aqui me tens,
prostrado a teus pés,
Corta minha cabeça assim como fazes ao sorriso,
tens coragem?
Coitada de ti, vida,
que nada mais és que uma vazia miragem…
Salta de mim a fúria escondida
e ri-se de ti,
de tuas tramas e encruzilhadas,
da figura que criaste com suor e saliva,
julgavas tu que me moldavas?
Vences-me,
desvias de mim o sentido,
o rumo da rosa dos ventos,
o cabelo que descai a meus olhos
e me fecha o pensamento.
Mas continuo aqui,
penso em ti,
tento entrar nessa teia,
mas meu mundo é deste lado,
olhando-te sem ter predefinida uma ideia,
descobrir que no sorriso,
atrás de um rosto fechado,
surge o crepitar do lume,
o amor na alma sem aviso.
Julgavas que conseguias enganar-me?
Dás-me papel e caneta,
fazes surgir uma nuvem no céu
e pensas que eu,
sim, eu, julgas que sou como tu?
Ah! Deixa-me rir!
Eu construo canções,
canto monumentos e solto estrelas,
dou asas à água para que corra em tições,
e isto fora de ti,
não sabes que existo,
mas digo-te que sei mais eu sobre ti, vida,
do que tu mesma sobre mim,
fazes correr o mundo,
tiras o tapete a que em ti acredita,
falsa!
Manténs-te afastado,
debruçado neste velho muro coberto de musgo,
é ele uma forma de ti, vida,
e eu...
Olho-te, levas todos contigo,
deito um último olhar melancólico,
triste sina,
pela enésima vez recuo continuar,
não quero fazer parte desse mundo,
dos dogmas que fazem chorar!
Criaste-me,
jarros brancos florem em silvados,
o pólen cai e seca as lágrimas
e eu não sei o que faço aqui,
apoiado numa folha branca,
tento lutar contigo com esta caneta
e nas palavras que espalho,
mas és mais forte do que eu…
Penso que não existo,
sou o reflexo de alguém que quer sair de ti.
Dá vida a uma grande massa de carne humana,
sonha sonhar livremente
e refugiar-se na alma errante,
mas não resulta…
Desisto!
Vida, aqui me tens!
Faz de mim o que quiseres,
rasga-me as entranhas com essa garra abominável,
tira-me os olhos que te vêem
e cose o sorriso que te atemoriza,
mas os sonhos, não, os sonhos continuam,
semeio-os aqui, numa folha de papel,
numa conversa de café,
no afago a uma criança,
no lento escutar das lamúrias alheias,
no abraço a uma árvore queimada…
Não podes combater isto, vida,
combato os teus ideais,
submeto-me a teu remoinho espiral,
sorris pensando que me rendi,
minha querida,
não faço de ti inimiga,
estou cá, em ti, vida,
mas em breve partirei,
voarei de novo para os sonhos,
sulcarei mares arenosos em busca de um beijo…
Pensas que me deglutes,
abres teus braços pensando que eu vou,
mas tu não me queres abraçar,
queres dar-me o beijo da morte,
sugar meus sonhos,
o futuro que por mim passou,
o murmúrio arrastado
que é eu mesmo
a chorar…
Não julgues que te destruo,
não te odeio,
vejo que não és verdade,
és apenas algo que não sabes que és,
como uma flor que nasce num jardim…
Beijo-te, vida,
porque te amo,
estimo,
louvo teu rápido esgar,
mas não me chames,
não estou mais em ti,
és minúscula,
rodopias como um velho pião
na palma da minha mão.
Controlo-te,
mas logo vens a mim,
como o conhecido sacrifício a que digo sim,
giro agora na tua mão
e tu sorris de escárnio,
Amo-te!,
Foi de mais para ti não foi?
Não é isto forma de viver,
resiste-se como o velho amolar
roça a faca na pedra
e dá a pedra a face à faca,
mas existem os dois.
Afia meus sentidos,
dá-me olhares negros como de um anjo
e vem até mim, como estes raios de sol
que fazem sombra sobre o que escrevo,
transformam minha mão em vida,
geram duas canetas,
duas penas que acentuam a mágoa…
Paro na minha quietude,
abandono minhas sombras
e são elas que te escrevem,
vê-me a olhar o sol,
fecho os olhos e vejo globos azuis,
pássaros de cristal que voam em mim,
mas não sabes o que isto é pois não?
Estás muito atarefada...
Permito que sombras te escrevam
como se as lágrimas arrancassem o choro,
como se a foz chamasse o rio da nascente…
Eu continuo aqui,
olhando-te,
confuso,
indiferente…
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