A chuva ao som da noite (reticências)

Começo a estabelecer um horário próprio, certo, e sento-me em frente ao computador, com o teclado sobre as pernas, abro o Word, aumento o zoom para 130% e relaxo na cadeira…
A inspiração já cá estava à espera, sentada, paciente… Hoje tenho chuva e só não a consigo ouvir melhor devido ao barulho do computador a funcionar…
Abençoada chuva! Permite andar por aí, com o vidro aberto, abotoando o casaco e sorrindo, como só quem gosta da chuva sorri…
À noite as paisagens são mais curiosas e os seres que encontramos também, aves raras como as que encontro são difíceis de ver… Apenas uma coisa me entristece, as árvores que se curvam sobre mim à medida que passo, à medida que as ilumino com os faróis, o castanho, negro e dourado da paisagem queimada, o sufoco das suas lamurias, dos seus choros, da sua morte lenta… Já ninguém fala nos incêndios, nas vítimas, nas perdas materiais, a preocupação reside apenas na recuperação psicológica de alguém cujo salário de um mês permitiria reconstruir a vida a muito boa gente que ficou sem nada… Não é para isto que venho escrever…

Hoje visitei a minha antiga casa, onde vivi 26 anos, onde cresci e onde tudo foi perdendo tamanho, os sofás, as cadeiras, a cama, as paredes… Fez-me bem estar lá, perto, e ver que algumas coisas permanecem… Mas também não quero escrever sobre isto… Então o quê?

Pensei que uma das minhas histórias, daquelas que estão por escrever, ficaria bem no blog… Tenho que o alimentar… Mas também não me apetece escrever histórias, verificas, baseados em factos fictícios…

Também não era isto, mas paciência… Escrever sobre estas coisas é mexer no lodo, agitar água com lixo e quando isto acontece, há que ter por perto um purificador…

Para a próxima falo sobre outras coisas ou talvez conte uma história, como a do bombeiro de almas…

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