À sombra do prólogo

À sombra do prólogo

A sombra do desconhecido
Que contra sentido és tu
que me isolas da vida nunca saboreada?
Podes sorrir numa área a jusante do medo
circunscrita de fogo brando,
deixo-te ser o pesadelo que me devora cru
insensatamente de uma flor amada,
sussurra-me ao olhar,
quem és tu segredo?

Cobres-me de serena loucura,
no vento que me beija arremessando-me
em paredes de destino irreal
e travos de pesadelo numa lenta tortura,
rende-te ao som da brisa que embala o dormir
e saúda os pássaros em pinhais de clara escuridão,
não deixes nunca que o meu sonho deixe de sorrir...

Nas verdades do destino
onde os traços que se perdem são migalhas,
há um rumo que aguarda pelos serenos cantos.

Que ilusão me prende a ideais terrenos?
Quem se revela quando fecho os olhos?

As luzes que chamam por mim
encantam e desvendam a noite,
são o claro acordar
ou fruto de meus sonhos?

Não deixes que se abatam em mim
o desânimo do audível amordaçar
e a tristeza que teima em atacar...

Faces que se iluminam ao passar pelo mundo
como dormindo,
como sonhando nos dedos de um vagabundo.
Quem reflecte o olhar fundo da paisagem
sabe que no sorrir morre o medo da miragem.

O cabelo sucede à noite em sussurro despertando,
dança inebriado pelos falsos sentidos
que acometem os meus passos perdidos.
São cândidas folhas de Outono o pôr do Sol
ou o vulto que me acompanha é a sombra do lençol?

Diz-me quem canta esta melodia
que morde o limiar da fantasia,
talvez sejam os relvados pastos
que transpiram alegria,
talvez sejam os medos
que vão nascendo quando desaparecer o dia.

Se nasce numa nuvem o olhar
e o céu ameaça, com um trovão,
a noite cola-me ao vento como a resina
e a caruma acolhe o corpo vão,
se soubesses, vida, o quanto a solidão me ensina.

Não sou eu que te escrevo,
nem tão pouco a luz do dia,
desculpa, noite, pensei que era o Sol que morria…


Serenata à noite minha

Quando clamo à noite que é minha
Minto,
Sabe ela no azul escuro ou celeste
O que no fundo sinto,
Sorrio ao luar frio do Outono que me arrepia a espinha
Como um vagabundo ergue sua garrafa de líquido tinto.

Quando sóbrio estendo um dedo às estrelas
Choro,
O cintilar é código que cai em meus olhos
E pede que regresse ao vazio onde moro,
Nas mãos frias que entram nos bolsos prenhes de sonhos
Um pensamento solta-se à luz que decoro.

Na noite vadia que atrai em mim o fogo
Ressuscita o ímpeto de sorrir,
Talvez queimar folhas secas de Outubro,
Pisar o som do vento nas calçadas graníticas
Ou deixar que a felicidade possa fugir.

São rimas órfãs que lamentam a razão,
Esclarecem o poema de sombra reflectida
Na palma de minha mão.

Agora o lume crepita na imaginação
E no escuro um vulto inócuo que se aproxima,
Clamo à noite, amante, és minha…


Prólogo

Acabou-se…
Algum dia tinha que te dizer,
Que os medos que possuía
Além do prazer,
Ganharam nomes
E faces,
São agora companheiros e realidades
De dimensões onde se movimentam.

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