Vou deixar o silêncio entre nós, noite, falo contigo de pés descalços e assoberbado pela tua magnitude e simplicidade. Afinal, de tão portentosa e estrelada, podias nem sequer falar comigo, mas comoves-me quando viro costas e tu, candidamente, com o peso de um orvalho, me passas um braço imaginário e dizes: tens em mim um amigo.
Guardo o olhar que choveste, deixo as nuvens florirem nos pastos faustos do destino, tacteio mãos e escuridões em busca de um dorso com outras mãos. Curvam-se as curvas da estrada e as margens que me separam da madrugada. Empobrece-me o nada à sombra e resguardo da minha alçada, no noctívago sentimento de aguardar, à candeia ténue da Lua, o suspiro inaudível da vida no meu peito a ancorar...
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