O último cacho

" O último cacho ", nova crónica do Nada, no Correio do Porto. O frio cobre-me os braços para uma manhã de sábado pré-Outonal. Esfrego-os para me aquecer e continuo o caminho. Vozes inusitadas à hora matinal percorrem o nevoeiro e chamam-me a atenção. Risos. Aqui e ali uma voz adolescente chama por alguém, numa voz estridente alguém pergunta: – Este cacho é para a travessa? Uma voz septuagenária responde, arrastada e agastada. – Nem para beber há que chegue, deita-o no balde. Os termos, os sons das tesouras de poda a tricotarem a manta que cobre as minhas recordações, emocionam-me. Ou talvez seja o frio. Apercebo-me que é a época das vindimas quando, na minha mente, já a última poda tinha talhado toda e qualquer colheita que recordasse os meus dias de adolescente. Por entre as folhas das videiras fronteiriças um rosto assoma, espreita e saúda-me. Retribuo com um sorriso. O “bom dia” ficou preso nas rememorações atravessadas na minha glote. Ao olh...