Verão

Verão Nova crónica na minha secção "Crónicas do Nada", no Correio do Porto. O calor acomete-se a quem, de véspera em vésperas de dias por vir, se inunda dos pretéritos que ainda não chegaram à margem do tempo presente. O tempo ausente banha os veraneantes, a contas com protecções dérmicas, bronzeados imigrados de uma tez que não existe. A irrealidade é vivida de publicação em publicação, a leitura pulula de comentário em comentário. A curiosidade inócua intromete-se na realidade da existência irreal que nasce nas leiras dos comentários, comentados entre comentários e figuras animadas de sorrisos e palmadinhas nas costas em forma de corações. O quão mais natural seria a voz, ainda que envergonhada, desabituada, proferir o que o coração muitas vezes quer dizer, mas por falta de prática não o sabe fazer. São férias, senhor, diria um espírito mais compassivo e ausente frequentador de orbes tão densos como este terceiro planeta a contar do astro rei. Enquanto ardem as labaredas ...