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A mostrar mensagens de junho, 2021

Tempestade

 “Tempestade”, a minha crónica de uma tarde quente e abafada, no Canal N . As nuvens negras, azuladas, incutem uma certa apreensão devido ao ribombar lento que sobe a encosta e traz novos pedidos a Santa Bárbara. Percorre-se o olhar pela vinha e no coração surge o temor pelo que se avizinha. Pé ante pé escuta o borbulhar da vida nos verdes bagos fetais, crescem alheios à natureza ou à voz surda da reza, as mãos ondulam na folhagem, detêm-se aqui e além num cacho maior, mede-se o sonho na promessa de uma boa colheita, afasta-se o pesadelo da tempestade e sua maleita.  O tempo foi sempre senhor de si mesmo, jamais ficou a dever a ele próprio uma estação, se não é agora é depois o tição. Caso o frio se arrolhe tardiamente, virá mais cedo o Verão. É isto, a vida, tudo se paga neste mundo. Ou no outro, mas de lá poucos retornam com as novas, ficamos por cá com as nossas sovas e eles, além, com o que aos dos céus lhes convém.  O vento aligeira-se, a tarde inebria-se de uma bris...

Itinerância

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"Itinerância", a Crónica do Nada, no Correio do Porto . Sentado na viagem, em pé na vida, conduzia a carrinha adaptada em biblioteca móvel numa estrada inapta ao calcorrear de pneus alcatroados sobre o piso de terra. O safanão que um buraco a meio de uma curva atirava como uma gralha num parágrafo inacabado, alavancava os livros na traseira que, apesar de devidamente acomodados, sulcavam no ar páginas abertas por onde escapavam palavras de quem os leu e, no íntimo, as calou como sonhos vívidos quando, à sombra de um toldo, viveu uma aventura erigida de palavra em palavra, até o sorriso e o mirar da contracapa findar o dia como um novo recomeço. A vida lê-se, escreve-se e, nos entretantos, para quem o sabe fazer, vive-se. O largo empedrado onde o granito galgava as ervas por entre as frestas estava habitado, agora, pelo andejar de diversas pessoas que, qual espuma de uma maré inócua, povoava o mar de pedras à sombra de um carvalho central, numa praça descentralizada onde um êx...