Soçobro
“Soçobro”, crónica no Canal N, para ler aqui ou aqui . Badala-se o sino, a liga metálica repercutindo no ar gélido da manhã transmontana as ondas sonoras de um lamento. Sabemo-lo dia de luto pelo número de toques, o braço firme retesado que firma e puxa o arame, contrai e relaxa o arame. Viver é um ir e vir. Algures, entre labutas agrícolas, um ancião retira a boina negra, leva o joelho ao chão bolboso, negro e humidamente fértil, e convida ¬– rezemos um Pai-Nosso por este irmão que partiu – e lestamente, no respeito que merece o fim de uma existência terrena para a partida que se quer serena, os restantes lavradores ajoelham-se e guiados pelo mais velho, o que sabe os toques e repiques, aquele da sábia palavra final, como pontuação sensível no final de qualquer diálogo serrano, concluem a oração, solenemente, pacatamente, sabendo que o tempo é de quem o sabe deixar passar de encontro à sua própria existência. No adro, o musgo, as ervas e as flores crescem entre as frestas das ped...