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A mostrar mensagens de novembro, 2020

Será?

“Será?”, crónica no Canal N, para ler aqui ou ou na página do Canal N . Na clausura onde apenas habita o medo, o nevoeiro deixa-se descobrir por quem sonha para lá das névoas que emolduram as montanhas vazias.  O domingo tem um travo vazio, quando ousamos despir a rua de abandono, o macerar das rodas do carro no húmido empedrado que se faz chão, traz-me aos olhos uma torrente em aluvião. O que fazer à solidão?  Das varandas, timidamente, casais despidos da formalidade dominical auscultam a rua da promovida aldeia em roupão, parecendo preparados para um hibernar forçado e chamando-lhe a isso o seu fado, pacatamente, como o caminhar de um prisioneiro, inocente, não que lhe assine a culpa a vida, mas porque lhes urdiram a existência de sonhos despida. Calcorreio a tijoleira do alpendre numa antecipação do amanhã, que ainda não existe, ao ver que o chão seca-se da humidade como pode, sem ouvir os corvos num esvoaçar prenunciador de ninho pelas redondezas. A alegria, enfim, do negr...

Halloween

Ei-las! Bruxas! Nas máscaras que não caem, Nos dias escondidos, Das vidas que nos esvaem. Virulenta, A placidez de um abraço escondido, Em sorrisos no olhar Que o ego apascenta. Clausura, A hermética existência imposta É salubre ditadura? Não me omitam nos arco-íris! Desinfectem-me a alma Com o âmbar, néctar dos Whiskeys! E ainda que me soçobre em prantos, Deixem-me pecar arfante pela noite Pois amanhã acordam os santos!

As uvas do podador

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 “As uvas do podador”, crónica do Nada no Correio do Porto, para ler abaixo ou aqui . As labaredas tímidas por entre o amontoado de folhas e ramagem verde libertam golfadas de fumo branco, teremos consenso quanto ao que fazer a este final de tarde? Desligo a luz do candeeiro, o cair da noite antecipado de uma hora velha projecta no vidro da janela a minha própria imagem, o reflexo de um corpo que me foge à idade, o esbranquiçar das feições e o reflexo em mim daquilo que escrevo. A recursividade da vida vê-se em toda e qualquer superfície. A companhia do silêncio é apenas interrompida quando os cães, farejadores do que não vemos, ladram ao longe em intermitências caninas que só eles conhecem.  A noite, na verdade a gasta tarde de sábado, embrulha-se em mim e com ela todos os meus passos errantes no jardim ganham grafia, nem me vale o dia, por tantas palavras caberem em mim sem que as consiga escrever. O medo esconde-se na máscara, na bacteriana forma de vida que se vai acostuma...