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A mostrar mensagens de agosto, 2014
Queria digitar o quanto me doem as mãos de escrever no embaciado espelho que lancetou algumas imagens que tinha de tudo e se partiu. Felizmente, ninguém se feriu.
Pagaria, caso as nuvens fossem dinheiro, o que fosse necessário para ter sempre a refracção das gotículas de água num dia de sol tímido. Engano o torpor de uma viragem na estrada com a promessa de ser, novamente, o som abafado da surpresa de uma criança a ver pela primeira vez a influência de um sorriso. Tenho gasto as horas, talvez por isso o tempo ranja quando passa perto de um sentimento e o vento se faz ao caminho, na maior parte das vezes sózinho, para se sentar no colo de alguém que o embale, até ele se recordar daquilo que realmente vale. Deitado, a noite subiu já até ao meu peito, preparando-se para me cubrir. Agora sim, é hora de dormir.
Eis-me na gare do sonho. Vão passando entusiasmados por mim, atropelando-se, correndo para novos horizontes, fazem-se assim aqui, aos montes. Param vários, esperam que entre, mas apenas sorrio e digo que não timidamente. O meu sonho faz-se devagar, com a paciência do tempo e a implosão das estrelas. Lá seguem eles, novos, velhos, entrando e saindo, trocando abraços, beijos aqui e ali. Ouço incrédulo, triste, quando alguém é posto fora, apenas por não ter bilhete para sonhar. A ironia do destino é os bilhetes serem grátis, mas mesmo assim exigíveis para exibir aos fiscais, espécie rara que por asco não pertence aos animais. O meu sonho é este, imutável, passar pela vida devagarinho, ter a postura de um velho banco de jardim, virado para o mar, ou para onde queiram olhar. Assim, ao de leve, beber amor em cada passo a dar, para que, um dia, seja o sonho de acordar.
Quando for grande quero ser manhã fresca, temperada por uma chuva que escorre aos riscos, por vezes salpicos, ao longo de todo o ar que nos separa do próximo passo na estrada.
Deixei as palavras a secar. Choveu, hoje, sem que se molhassem as histórias, apenas as memórias.
Vou deixar o silêncio entre nós, noite, falo contigo de pés descalços e assoberbado pela tua magnitude e simplicidade. Afinal, de tão portentosa e estrelada, podias nem sequer falar comigo, mas comoves-me quando viro costas e tu, candidamente, com o peso de um orvalho, me passas um braço imaginário e dizes: tens em mim um amigo.
Conduzo num túnel, o Sol põe-se no espelho retrovisor, saio e embora seja dia, tudo me parece noite. Apenas a brisa me recorda outros meses. Começa uma escassez de estradas, felizmente. Algo que nos permita colocar os pés no chão, descalços, nós e o solo, falando a uma só voz. É fácil desmetaforizar quando se conhece as letras que chovem. Olhem. Cabem mais pássaros sob o alpendre gigantesco onde me abrigo, traz um amigo, uma lembrança, uma memória, faz-te de ti mesmo história,  noite ganha num jogo de glória, mas deixa lá fora, onde não alcancem as hienas, as máscaras carnavalescas que cobrem tue verdadeira voz. Que noite te traz sózinho? És tu, por onde caminho, teu sangue, meu vinho? Quer-me sina corpo, casa de carne, mas há ainda em mim um sopro, que levanta a brisa onde me refresco, frases sem nexo, uma sombra de candeeiro. Pudesse ser sempre o mundo a imaginação de te ver brincar num qualquer recreio. Pelas vociferadas ausências acenta o pó de um campo vazio. Acredito q...
A Natureza encarrega-se de tornar natural as nortadas sentidas ao longo do dia. A noite amanhece fria e tornar-se mais fria será o reflexo da sua naturalidade. Apenas os pensamentos viajam, entrelaçando-se ao longo de um trajecto um pouco sem rumo, mas não sem direcção. Enquanto há fôlego, coração, existirá a necessidade, natural, de ser mais leve que o ar que expiro e, quem sabe, ascender ao cimo de mim mesmo para encontrar o outro eu que me inspira. A vida corre rectilínea, o mundo gira. Algebricamente somos uma equação possível e indeterminada e quando nos encontramos perto da irredutibilidade afirmamos que talvez os cálculos estejam errados. Talvez por tudo isto continue a preferir a inevitabilidade de ser infinito e, assim, poder afagar um dia, ainda que em sobressalto, e acalentar-me com a humanidade que brota de alguns animais para connosco. Nem tudo está perdido. Enquanto houver caminho de regresso, nunca ninguém terá partido.
De braços abertos meço a distância em palmos que me falta percorrer pela linha ténue do horizonte. Todo o ser tem sede. Sê-de fonte.