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A mostrar mensagens de agosto, 2010

Dor mência

É na cal da dormência azul que te solto à vida. No tempestuoso fio de ariadne que se partiu quando encontrei a saída...

T ronco

No regaço quente da montanha, um uivo ecoa ainda na minha noite...  Morrem-se-me os troncos pelas folhas que reguei com o vento.

L'ar do celar

A casa que me habita vai ao encontro de um alpendre, veste-se de negro e paisagem, nos cumes aguçados do que chamam pastagem. Ser de lá e daqui, de onde estou e onde fui, é viver enquanto me adormeço, nos locais onde não morei, na casa onde não estou, é abraçar o mundo e encontrar, no regresso, as minhas mãos... nas minhas costas.

Decla mar

É como se as estrelas me elevassem para lá do infinito, sem pressa ou ardor, dia-a-dia, na quilha de um navio sem rumo, sem se perder, sem se ser. Levando o horizonte esférico que a poesia não declamada faz nascer, em mim, que não rimo as palavras com outras, apenas comigo.

Renas cimento

Do renascimento a cinza, o vento, a chuva que te leva à memória, a recordação do pó, do qual vieste, ao qual abandonarás o teu encardido corpo de betão. A vida sobe muros para espreitar passar o amor, cantarolando e assobiando, colhendo aqui e ali um figo, para se atirar aos olhos de quem tenta ver vultos na multidão.

Sa bore ar

É com prazer, um lento sorver de uma noite fresca, como os suores das frutas de verão, que saboreio o pouco brilho que as estrelas tombam pela calada da noite. O computador liga-se, chama-me, eu cedo e desfaleço os dedos no teclado, são elas, as teclas, que empurram, os dedos, de tecla em tecla, até escrever o que muito bem lhe apetece, que eu, leigo, sei lá que escrevo. Apenas junto as letras que se encostam a mim no decorrer dos dias e, já não chegasse o meu peso, fazem pender os ombros para o chão e os passos arrastarem-se até chegar a um qualquer caderno ou horizonte e, aí, em paz, prostrar aos soluços ritmados os versos que se desprendem, como os suores dos corpos de inverno.

In cúri A

Acabamos por ser aquilo que o espelho ditou, cruéis, angustiados, baços e esquivos, porque de nós escorre a incúria de querer abraçar o intangível, sem o saber, afinal, que o intangível sucumbe à nossa própria sombra, ao nosso próprio destino... Eu sou mau, vil, amedrontando o próprio carisma de ser ninguém.  E gosto...

Sub úrbi os

Poucos são os subúrbios na vida, mas na longa cerimónia que é o dia há um caminho batido a ouro, no suor que escorre da face da saudade, para cair aos poucos nos olhos de quem não olha. Há tanto de vida como de noite e, no entanto, quando adormecer, sei lá se vivi ou passeei ao largo dos tempos, apenas para sorrir, quando chove, sabendo que nasci apenas para sussurrar: ouve...

Infinitamente infinito

Agora que se descobrem os espelhos, as molduras passam a ter uma insignificância vil, o que está para lá do ser que se observa continuamente aguarda atingir o mesmo ponto no passado, oscilando entre ontem e amanhã, até se aperceber que descreveu um oito... ou será o sinal de infinito?  Vemo-nos numa vida passada então.

Puzzles

Viver é como um puzzle, do qual não se sabe o aspecto final... Sabe bem, bocadinho a bocadinho, pessoa a pessoa, amigo a amigo... No final de contas, quando encontrarmos as peças todas, os bocadinhos todos, as pessoas todas, os amigos todos... Veremos que o puzzle, de todas as pessoas juntas, é nada mais que nós próprios.

Coisas

É apenas um bocadinho de nevoeiro, no entanto, para mim, este húmido algodão doce, traz no encalço um pilar num horizonte onde estendo a minha cama de rede... A outra ponta está já presa, algures, no infinito. Embora a ausência seja notada, a verdade é que todos somos mais e melhores depois de nos cruzarmos uns com os outros, depois de bebermos do outro o que a vida por ele/a nos oferece... Ninguém é de ninguém e ninguém se separa... Somos todos um