Órfãos da misericórdia
Órfãos de misericórdia , crónica do Nada no Correio do Porto. “Órfãos da misericórdia” Quando me aterram as memórias, pauso-me no hiato entre as vidas que sei ter conquistado à morte. Afinal, a passagem de um mundo para o outro está ao alcance do destapar, paulatinamente, o postigo onde o musgo calafetou os espaços entre as tábuas de madeira toscamente pregadas. A liberdade oscila no espaço a percorrer desde que nos soltamos das amarras do nosso próprios cais, até ao sereno embalar de um homem só, na maré, de frente para o destino, em pé. Embora me consiga envolver e desenvolver de encontro ao portão de ferro, o arame farpado retorcido e as inscrições germânicas em terras polacas, ostentam tudo o que poderá ter de enganador na palma das mãos de Hades. Concentrados num campo estéril onde apenas o sofrimento irrompe, perdidos no caminhar árduo da imemorável história dos pisados, vejo-os oscilar na existência como pequenas marionetas cujos cordéis urdidos foram pelos que, ca...