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A mostrar mensagens de maio, 2018

Obliviamente

Obliviamente , crónica de Domingo, na Bird Magazine. Quando se sentam nas cadeiras, cinzentas, encolhem-se numa implosão existencial e entre napa esburacada e suja encontram forma de acolher a ansiedade. Se o cansaço afirma, a cabeça descai e pende para trás, encostando-se ao vidro manchado de onde se decalca tristeza e a palavra Urgências passivamente substantiva o local. O despreparo do vidro para a solidão fá-lo oscilar e ir ao encontro de corpos que lá se encostam, dando espaço ao descanso ainda que parco ou as cabeças de cabelo oleoso por onde o tempo teima em pentear preocupação. Abro um olho, a preguiça e a timidez assim obrigam, os nomes ritmados pausadamente sonorizados fazem fila para uma triagem de uma cidade que conhecem apenas os mais idosos e os subscritores de desviantes canais desportivos da caixa enclausurante. Novo nome, novo lamurio, um andar coxeado como se o mundo fosse feito de dois degraus desconexos e irregulares, onde caminhamos pé ante passada, falheira, entr...
Cobre-se a vida na candura o branco e o invisível que perdura, sagrado o dia espreguiça-se pela tarde e é Deus (de quem tudo tive) que sussurra: a vida é o que em nós Vive.

mas Deus é grande

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“mas Deus é grande”, mais uma crónica do nada , no Correio do Porto . Tímida, aproxima-se do balcão. Educadamente aguarda que as senhoras dentro do casulo se apercebam da sua presença. Quando o fazem, dão as boas noites com um sorriso e um aceno de cabeça e escondem o sorriso ao discurso despreparado da senhora, que tenta saber quando abre a sala, para as pulseiras, a que tem as cadeiras azuis. Entre o tentar perceber, o conter do riso e os desvios da posição a cada vez que o bailado de uma maré de luzes azuis anuncia a chegada de nova ambulância, tentava a senhora perceber a que horas poderia estar com o marido que estava doente e devia sentir-se sozinho sem ela. Às 8:00, respondem-lhe. Virando-lhes costas, vem sentar-se ao meu lado direito. Cruzando as mãos, os dedos torpes e grossos como cascas de pinheiros, encostou a cabeça ao vidro e espreitou o relógio que austeramente, quase sincopemente, apontava as 2:00. A roupa minimalista, o blazer quadriculado, a mala de mão velha e negr...