Os reternizados
Crónica de domingo na Bird Magazine. Olá filho, Escrevo um dia antes para te poder dizer isto: Parabéns! A tua mão dorme aqui, a meu lado, embrulhada como sempre numa almofada, está tão enroscada que pergunto se não existirá na sua codificação genética algum tipo de ascendência genética com o bicho-de-conta. Gosto de te ouvir gargalhar com estas pequenas idiotices minhas. Ela já não deve estranhar o barulho dos dedos no teclado e nem a luz fraca do candeeiro a deve acordar. Acredito que depois do dia de hoje, quando o Sol saiu da toca pela primeira vez em vários dias, nem o gotejar das estrelas no zinco barrento do telhado a faria abrir os olhos. Escrevo como se não soubesses disto. Claro que sabes. Se calhar até foste tu que encomendaste um dia solarengo, com nuvens coloridas e sarapintadas de formas que apenas a imaginação infantil pode moldar. Paro um pouco antes de retomar a escrita, este meu hábito de escrever apenas no ar, sem grafar, faz com que me perca várias veze...