Já todos fomos al(gu)ém. De repente, como quem pisca o olho, 20 anos transformam-se em traves de cimento, gares tecnológicas, pessoas vestidas de botões e cristais líquidos, pregões substituídos por vozes maquinais e toda uma tarde cravada em cinzas, com que prenunciando a erupção de um vulcão que, paradoxalmente, apesar de parecer volátil e prestes a expelir a camada bafienta do outro nós, está ainda tão enraizado em tanta falta de nós no outro.
Guardo o olhar que choveste, deixo as nuvens florirem nos pastos faustos do destino, tacteio mãos e escuridões em busca de um dorso com outras mãos. Curvam-se as curvas da estrada e as margens que me separam da madrugada. Empobrece-me o nada à sombra e resguardo da minha alçada, no noctívago sentimento de aguardar, à candeia ténue da Lua, o suspiro inaudível da vida no meu peito a ancorar...
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