Quando o tempo morre em mim

Pouso o alforge
e a saudade escorre-me da face,
encostadas ao sonho
as cartas que carrego há milhares
dos milhares que hão-de vir,
suspiram pelo encanto do tempo
que a seus olhos foge.

São dicotómicas,
plantadas por mãos invisíveis
que cruzaram o céu nocturno,
sorriram juntas sob um olhar estrábico
que as fitava
ao sabor de um verde-esmeralda.

Algures,
sim, algures para cá da realidade
pernoito enquanto o Sol,
ou qualque outro gigante,
percorre as entrelinhas das minhas cartas.
Pela areia que dança
agarrada aqui e além ao vento,
passaram anos
ou segundos esmaecidos,
que é cor de vida assim
como quem de si mesmo se afiança...

E o sorriso cansou-se,
faltava pouco para que a luz,
ou essa sombra que seduz,
caísse do árduo e agreste espelho
que sendo menos que um átomo
foi dele a primeira centelha...

Assolaram à costa deste caderno
as pequenas letras tardias,
fugidias,
que me chamam há longos instantes
bem do alto daquele fundo ermo.
Traziam com elas algumas das tais,
uns pequenos encantos
que me deram há idos Natais...

Saltaram e subiram,
cresceram em esforço de pequena gente
e em mim tocaram,
apenas o odor do cigarro era diferente,
e assim,
olhando e chamando,
entregaram-me aquilo que parecia ser
o que não era... Um outro céu
que, após a queda
de seu último véu,
poderia muito bem ser
o velho tempo que morreu...

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