Esvazio os bolsos quando chego a casa. Todos os bocadinhos de nada, ou seja quase tudo, ficam um pouco esquecidos, de lado, até amadurecidos se transformarem nalgo mais que hoje. Depois separo do ruído as pepitas do meu ouro, breves momentos da mais pura simplicidade, ignorância e inocência. Esta é a minha riqueza. Procurar noutros e noutras, no fundo do olhar, a essência do que são ainda que eventualmente possam nem o saber. Há momentos em que o presente se eterniza.
Guardo o olhar que choveste, deixo as nuvens florirem nos pastos faustos do destino, tacteio mãos e escuridões em busca de um dorso com outras mãos. Curvam-se as curvas da estrada e as margens que me separam da madrugada. Empobrece-me o nada à sombra e resguardo da minha alçada, no noctívago sentimento de aguardar, à candeia ténue da Lua, o suspiro inaudível da vida no meu peito a ancorar...
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